Na sua primeira edição de 2010 o Jornal Brasileiro de Pneumologia (J Bras Pneumol.) publicou o editorial "Classificação dos periódicos do Sistema Qualis da CAPES - a mudança dos critérios é URGENTE". A preocupação com o impacto da nova classificação Qualis sobre as publicações científicas brasileiras fica bem evidente. O editorial foi assinado por 60 editores de revistas brasileiras e listou uma série de propostas elaboradas a partir de um amplo debate entre diretores da ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos) e os coordenadores das áreas de Medicina II e Medicina III da CAPES.1
Uma discussão semelhante ocorreu no III Encontro Nacional de Pós-Graduação na área das ciências da saúde, realizado nos dias 28 a 30 de outubro de 2009, em Porto de Galinhas, PE. Este encontro reuniu, além dos coordenadores de área da CAPES, coordenadores de programas de pós-graduação na área da saúde de todo o Brasil. Os temas centrais do encontro foram a avaliação dos programas de pós-graduação pela CAPES e as políticas nacionais de pesquisa em saúde.
A nova classificação de periódicos Qualis da CAPES é de extrema importância uma vez que avalia a geração de conhecimento nas universidades brasileiras e influencia a forma de veiculação deste conhecimento. O sistema Qualis é a ferramenta usada para estimular a qualidade da produção científica nos programas de pós-graduação. Os critérios utilizados na avaliação da pós-graduação pela CAPES vão ditar as normas e metas que os programas de pós-graduação buscarão ao longo do triênio. Portanto, os critérios devem ser discutidos por todos da área de interesse e construídos a partir do entendimento do papel da pós-graduação brasileira e da clareza sobre o tipo e a qualificação do profissional formado nestes programas (pesquisadores e docentes).
Os Programas de Pós-Graduação em Pneumologia e Clínica Médica fazem parte da área de Medicina I da CAPES. Nesta área o impacto do sistema de classificação de periódicos Qualis sobre as publicações em periódicos nacionais poderá ser ainda maior que na Medicina II e III. Isto se deve ao fato de que na área I foi estabelecida uma "trava" para limitar o número de publicações em periódicos B3, B4 ou B5. A maioria das revistas brasileiras pertence a estes estratos. A CAPES considerará no máximo três artigos em cada um destes estratos por docente no triênio.
Há consenso de que é necessário qualificar a pesquisa brasileira e internacionalizar o conhecimento produzido no Brasil. Também é inquestionável o papel que os periódicos brasileiros desempenharam para tornar visível a produção intelectual da pós-graduação no Brasil. Do mesmo modo, não há dúvida de que deva ser estimulado o crescimento das revistas brasileiras, que em muitos casos são financiadas por universidades e associações científicas de classe. A internacionalização destes periódicos será potencializada por uma ampla discussão entre os grandes produtores de ciência, que são os programas de pós-graduação, os representantes da ABEC, os órgãos que fomentam a pesquisa e a difusão de conhecimento e a CAPES.
Portanto, este é o momento de ampliar o debate nas universidades levando-o a todos os docentes e alunos de pós-graduação. Uma das oportunidades para fomentar esta discussão é o fórum de elaboração do Plano Nacional de Ensino da Pós-Graduação. Neste contexto é preciso considerar que tanto o estabelecimento de critérios de avaliação que estimulem o crescimento da pós-graduação, como a inserção internacional dos periódicos brasileiros, são fatores importantes para estimular a pesquisa nacional.
Marli Maria Knorst
Professora Associada do Departamento de Medicina Interna, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Serviço de Pneumologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Referência
1. Classificação dos periódicos no Sistema Qualis da CAPES - a mudança dos critérios é URGENTE! J Bras Pneumol. 2010;36(1):1-3.