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Editorial

Publicações do Jornal Brasileiro de Pneumologia

Publications in the Brazilian Journal of Pulmonology

Carlos Roberto Ribeiro Carvalho

É interessante como, ao longo de nossa vida, vamos nos acostumando com as facilidades que o progresso e a tecnologia acrescentam às nossas rotinas e nos esquecemos de como era há não muito tempo atrás. Pesquisadores mais antigos como eu pouco se recordam do período em que fazíamos levantamentos bibliográficos e nos comunicávamos sem os computadores, sem a Internet, sem os telefones celulares. Isso acontece também com nossos periódicos científicos. O Jornal Brasileiro de Pneumologia (JBP) há 10 anos vivia o final da gestão, como Editora, da Professora Thais Queluz e a transição para a gestão do Professor Geraldo Lorenzi Filho. Como exercício, vamos comparar dois anos de publicações daquele período (2001-2002) com os dois últimos anos (2011-2012). Esse exercício é importante para refletirmos sobre os próximos passos, ou seja, sobre o futuro do JBP. Durante o Congresso Brasileiro de Pneumologia, ocorrido em novembro em Belo Horizonte, fizemos uma reunião aberta na qual 27 investigadores, interessados em medicina respiratória, discutiram a situação atual e as perspectivas para o JBP. Esse encontro foi bastante interessante e produtivo e, sem dúvida, somente com a maior participação de todos poderemos atingir uma maturidade científica e fixar nossa revista como um veículo respeitado de divulgação da pesquisa torácica brasileira e internacional.

O JBP passou a ter maior destaque a partir de 2002, com sua inclusão no Scientific Electronic Library Online (SciELO). Recentemente, em junho de 2012, foi divulgado o fator de impacto (1,391) pelo Journal Citation Reports, o que aumentou ainda mais nossa visibilidade. Esse valor indica, de forma relativa, a importância do nosso periódico dentro do seu campo de atuação. Como comentado em um editorial da época,(1) somos a quarta revista científica brasileira, dentre as 93 que fazem parte da base de dados Thomson Reuters Journal Citation Reports, e a terceira da área médica.

Vamos à comparação entre os dois períodos. Nos 12 fascículos de 2001-2002, foram publicados 57 artigos originais, 15 artigos de revisão, 40 relatos de casos, 8 editoriais e 9 cartas ao editor. Esses números demonstram a dificuldade que os editores da época tinham para obter um número suficiente de manuscritos para serem avaliados e posteriormente publicados, principalmente trabalhos originais (menos da metade das publicações), que são os que trazem pesquisa mais elaborada e de melhor qualidade. Nenhum dos artigos publicados era de autores estrangeiros ou tinha alguma cooperação internacional. Notem que, nos dois últimos anos, a situação se transformou. Após a circulação maior dos artigos e do reconhecimento internacional do periódico, foram publicados 155 artigos originais, 25 artigos de revisão, 12 relatos de casos, 19 editoriais e 36 cartas ao editor. Desse total, 39 (quase 25%) foram manuscritos, editoriais ou cartas de autores de fora do Brasil ou resultado de cooperação com centros de excelência de outros países. Isso representa também um maior desenvolvimento da pesquisa nacional na área das afecções respiratórias, tanto clínica quanto cirúrgica.

Há mais de 10 anos, os principais temas de pesquisa na área respiratória publicados no JBP foram os seguintes: asma e DPOC (correspondendo a 20% dos artigos), seguidos por tuberculose, pediatria e cirurgia (10% cada), ou seja, metade das publicações correspondia a essas áreas mais clássicas. Aproximadamente 5% dos artigos vieram de subáreas não menos importantes, como função pulmonar, doenças infecciosas (exceto tuberculose), doenças intersticiais, terapia intensiva, tabagismo, broncoscopia e neoplasias, mas com menor apelo científico regional. Somente dois manuscritos eram resultantes de pesquisas experimentais, e ainda somente um tratava sobre distúrbios respiratórios do sono e um sobre fibrose cística. Esse fato espelhava ainda uma pesquisa incipiente. Com o desenvolvimento e a consolidação da pós-graduação nos centros universitários, essas áreas emergentes passaram a interessar um pouco mais nossos investigadores.


No período de 2011-2012, aumentamos em mais de quatro vezes o número de artigos originais publicados, e a diversificação de temas é notável. Continuam bastante frequentes aqueles relacionados às doenças obstrutivas e à tuberculose (20% cada). Porém, outras áreas foram contempladas. De forma importante, o número de artigos relacionados aos estudos da função pulmonar aumentou (10%), destacando-se a publicação de pesquisas visando a atualização ou a comparação de técnicas de avaliação da função respiratória.(2-7) Outro ponto bastante discutido foi a determinação de índices de normalidade para a população brasileira e sul-americana, principalmente para os testes de caminhada de seis minutos.(8-11) Foi também publicado um estudo internacional que apresentou uma proposta de valores de referência de volumes e fluxos expiratórios para a população do Irã.(12)

Os estudos experimentais foram mais frequentes, sendo vários oriundos de grupos cirúrgicos. Três estudos de modelos experimentais de pulmão ex-vivo.(13-15) O uso de um tipo de adesivo cirúrgico na reparação pulmonar após lobectomia,(16) a avaliação da matriz extracelular(17) e um modelo experimental de hipertensão pulmonar(18) foram testados em ratos, além do uso de stent autoexpansível em traqueias de coelhos.(19) Em camundongos, foram estudados modelos de resposta alérgica(20) e de estratégias protetoras de ventilação mecânica.(21) Essa diversidade de estudos mostra que nossos grupos de pesquisa estão ampliando sua atuação para as investigações de bancada.

As doenças intersticiais pulmonares, no período anterior, foram contempladas principalmente com relatos de casos raros. No momento atual, esse perfil mudou. Os relatos de casos e as cartas ao editor comentando situações incomuns continuaram; porém, manuscritos relatando resultados de pesquisas clínicas ocorreram. Foram publicados dois artigos sobre sarcoidose, um epidemiológico do Rio de Janeiro(22) e outro avaliando a histopatologia tanto da forma pulmonar quanto da extrapulmonar.(23) Houve um estudo sobre avaliação da função pulmonar na esclerose sistêmica,(24) que inclusive gerou um editorial do Professor Charlie Strange da Carolina do Sul, EUA.(25) Dentro do tema das colagenoses, foi publicado ainda um artigo especial pelo grupo de National Jewish Center do Colorado, EUA, sobre a síndrome antissintetase.(26) Um interessante trabalho sobre bronquiolite secundária a exposição em trabalhadores de numa fábrica de biscoitos foi publicado,(27) assim como dois importantes e originais artigos sobre o tratamento da linfangioleiomiomatose - um com a utilização de goserelina(28) e outro de doxiciclina, um inibidor das metaloproteinases.(29) Esse último estudo foi contemplado com um editorial escrito pelo Professor Francis McCormack de Cincinnati, EUA.(30) Graças ao desenvolvimento de grupos em diferentes partes do país estudando esse importante grupo de afecções, finalmente foi publicada uma diretriz da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o diagnóstico e manejo das doenças intersticiais pulmonares.(31)

Outra importante subárea de nossa especialidade que vem ganhando espaço e produção científica é a terapia intensiva,(32-34) incluindo a ventilação mecânica e a fundamental participação da fisioterapia respiratória, essa também com pesquisa crescente na área.(35,36) A aplicação de suporte ventilatório com a circulação extracorpórea foi alvo de um estudo em São Paulo(37) e de um editorial do Professor Alan Morris de Salt Lake City, EUA.(38) Houve três artigos sobre desmame da ventilação: um do Rio Grande do Sul sobre protocolos de desmame,(39) um de revisão sobre índices preditores(40) e um editorial do Professor Martin Tobin de Chicago, EUA.(41)

Outras áreas emergentes mereceram publicações, tais como circulação pulmonar, tabagismo, exposições ambientais, broncoscopia e distúrbios respiratórios do sono.(42,43)

Portanto, o JBP demonstra, com essa evolução, sua inserção internacional progressivamente maior e que está à disposição dos pesquisadores brasileiros e de outros países para ser um veículo importante de difusão do conhecimento na área respiratória. Como já havia afirmado, o trabalho está apenas começando.

Carlos Roberto Ribeiro Carvalho
Professor Titular de Pneumologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil
Editor do Jornal Brasileiro de Pneumologia



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