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Editorial

O Jornal Brasileiro de Pneumologia e as bases de dados internacionais

The Brazilian Journal of Pulmonology and international databases

Carlos Roberto Ribeiro Carvalho

Em um editorial publicado no ano passado, relatamos o orgulho de estarmos muito bem posicionados na avaliação realizada pela Thomson Reuters, que conferiu ao Jornal Brasileiro de Pneumologia (JBP) um fator de impacto de 1,391.(1) No presente ano, ficamos fora da lista do Journal Citation Reports (JCR) publicada em junho. Isso significa que, temporariamente, o JBP não possui o índice de avaliação da empresa Thomson Reuters. Entretanto, uma informação fundamental para a compreensão do presente momento é que o JBP permanece em todas as principais bases de dados de periódicos científicos nacionais e internacionais - SciELO, PubMed/MEDLINE, Scopus e mesmo na Institute for Scientific Information (ISI) Web of Science - ou seja, os artigos publicados pelo nosso JBP continuam sendo livremente acessados, em português e inglês, e as citações geradas e recebidas por eles permanecem sendo devidamente computadas. Isso significa que continuamos a ser uma revista de circulação internacional.

Nesses últimos meses, muitas informações e desinformações foram apresentadas em diferentes mídias. Visando a um esclarecimento para os nossos associados, farei um resumo da história da atual gestão do JBP.

Em dezembro de 2010, após apresentar um plano de ação à Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), fui escolhido para ser o Editor do JBP pelos quatro anos seguintes. Desde então, passei a participar de uma série de reuniões com mais de uma centena de outros editores de periódicos nacionais e internacionais, discutindo como melhorar o desempenho de nossas revistas científicas. Várias dessas reuniões foram patrocinadas pela Associação Brasileira de Editores Científicos, pela Associação Médica Brasileira e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A FAPESP participa como uma das responsáveis pela criação do modelo SciELO em cooperação com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde e com instituições nacionais e internacionais relacionadas à comunicação científica. A base de dados SciELO completa agora 15 anos e causou uma revolução na difusão das pesquisas realizadas em países em desenvolvimento, sendo a pioneira em expor artigos de maneira aberta e sem custos para a comunidade científica mundial. Esse modelo hoje é reconhecido e copiado por organismos internacionais.

Participei ainda, ao longo desses dois anos e meio, de reuniões com um número menor de editores (me recordo de pelo menos oito), nas quais sempre se discutiam as melhores maneiras de internacionalizar nossos periódicos, de organizar nossas secretarias, a escolha de um publisher que nos ajudasse na internacionalização, da empresa que ofereceria o melhor serviço de tradução dos artigos para a língua inglesa e os custos da publicação dos periódicos (publicação impressa e virtual), assim como questões relacionadas à cobrança ou não dos pesquisadores para a publicação de seus manuscritos, à obtenção de outras formas de subsídios (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a mudanças no sistema de submissão de artigos, à valorização de nossos revisores, à melhoria na exposição dos resultados das pesquisas brasileiras (crescentes em quantidade e em qualidade), ao fortalecimento dos periódicos para atrair artigos melhores do Brasil e de outros países, etc. Em nenhuma dessas reuniões das quais participei foi discutido qualquer plano deliberado visando única e exclusivamente elevar o fator de impacto das revistas. Discutimos sim como expor de maneira mais efetiva os resultados dos trabalhos realizados em nosso país.

Os pesquisadores brasileiros normalmente lêem os periódicos de sua área de interesse, ou seja, os principais periódicos internacionais (New England Journal of Medicine, Nature, Lancet, Science, etc.) e os mais importantes em sua área (por exemplo, na área respiratória, American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, Thorax, European Respiratory Journal, Chest, etc.) e não necessariamente lêem outras revistas nacionais que possam também veicular artigos da especialidade além do jornal da respectiva Sociedade (como exemplo, na área respiratória, o JBP, que é o único do país e o segundo da América do Sul participante da base ISI). Dessa forma, uma das ações discutidas foi a de se fazer artigos de revisão ou editoriais baseando-se no que víamos na literatura internacional e nas orientações de palestras, inclusive com editores internacionais, que participaram das reuniões às quais me referi. Através dessas revisões, poderíamos expor aos pesquisadores do país os artigos que as respectivas especialidades estavam produzindo e que não estavam nas revistas internacionais ou na revista brasileira da especialidade. Obviamente, um artigo de revisão permitiria citar um número grande de artigos, o que teria um efeito positivo também no fator de impacto das revistas citadas. Cada editor, dentro do conselho editorial de sua revista, ficou livre para decidir se iria ou não publicar esses artigos e sobre qual tema estariam centrados.

A autocitação foi outro assunto bastante comentado, uma vez que se constitui em um real problema para alguns periódicos brasileiros, embora não o seja para o JBP. Esse é um ponto interessante, falando especificamente do JBP. Como editor, se quisesse simplesmente insuflar o fator de impacto, poderia publicar artigos (ou editoriais) comentando temas discutidos nos anos anteriores, publicados no JBP, o que teria uma eficácia muito maior para o objetivo único de aumentar as citações, uma vez que a porcentagem de autocitações do JBP (dado disponível tanto na base de dados ISI como na Scopus) não ultrapassa 20%.

O e-mail enviado pela Thomson Reuters expondo o motivo da exclusão do JBP da lista de 2013 baseou-se no fato de um artigo da Revista da Associação Médica Brasileira(2) conter um número grande de citações de artigos do JBP. A ideia daquele artigo foi a de apresentar uma revisão sobre a pesquisa cardiorrespiratória brasileira. Porém, como o principal periódico de divulgação na área respiratória no Brasil é o JBP, das 229 referências citadas, pouco mais de 80 foram da nossa revista e, assim, tanto a Revista da Associação Médica Brasileira quanto o JBP foram excluídos da lista do JCR em 2013.

Reparem que o JBP foi punido por ter recebido citações de um único artigo publicado em outro periódico brasileiro. Fazendo um exercício matemático, se retirarmos as citações daquele artigo do total de citações do JBP no ano de 2011, estimamos que nosso fator de impacto apresentaria uma redução de menos de 20% (passaria de 1,39 para aproximadamente 1,09). Recentemente, o blog da revista Nature discutiu o assunto e expôs mais um artigo de revisão, esse publicado na Clinics, e que também comentava a pesquisa brasileira na área respiratória. Aquele artigo não havia sido considerado pela Thomson Reuters como anômalo, mas nele o JBP foi citado 52 vezes. Note que esse número de citações é decorrente do fato de que o JBP é o principal veículo de divulgação das pesquisas na área pulmonar em nosso país. Ainda como exercício matemático, se retirássemos também essas 52 citações, o nosso fator de impacto teórico passaria para aproximadamente 0,9, ainda um dos maiores dentre os periódicos brasileiros na base ISI. O que nos manteria na mesma categoria de periódicos na classificação Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ou seja, B2.

Estamos na época da avaliação dos programas de pós-graduação pela CAPES referente ao triênio 2010-2012 e, no momento, o JBP está fora da lista Qualis de classificação dos periódicos pela CAPES. Temos conversado com os avaliadores e com os responsáveis pelas áreas de Medicina I, II e III, expondo a situação. O JBP é o principal veículo brasileiro de divulgação da pesquisa respiratória e concentra grande parte da produção dos programas brasileiros. Esperamos que os manuscritos publicados nesse período sejam considerados nessa avaliação. Apesar de não estarmos presentes na lista de 2013 do JCR (base ISI), estamos na base de dados Scopus, que abrange um maior número de periódicos. A Scopus publica o índice "cites per 2 years", que utiliza a mesma metodologia do cálculo do fator de impacto da Thomson Reuters. Ambos os índices vêm sendo reconhecidos pela CAPES desde a avaliação do triênio anterior, utilizando, para a classificação, o indicador de maior valor entre os liberados pelas duas principais empresas que fazem a classificação de periódicos (Scopus e ISI Web of Science). A SCImago Journal Rank (que utiliza a base Scopus) de 2012 liberou em agosto o seu índice. O JBP ficou com 1,15, ou seja, mantivemos uma avaliação compatível com a classificação Qualis B2, a mesma do ano anterior. Cumpre lembrar que, em 2010, antes da avaliação do triênio anterior, os editores de mais de 50 periódicos brasileiros se reuniram com os representantes da CAPES e expuseram sua preocupação com a excessiva valorização de um único índice de classificação e com a lista Qualis liberada na época. Sugeriram então que "a análise qualitativa dos periódicos brasileiros deve ser reavaliada e não envolver somente o fator de impacto publicado pelo JCR".(3)

Dessa forma, esperamos que a CAPES não exclua os artigos do JBP da produção científica de centenas de pesquisadores brasileiros que publicaram os resultados de suas pesquisas em nosso periódico e que entenda a extensão da decisão dentro da desproporção do fato. Se isso for efetivado, a CAPES estará penalizando o periódico (órgão oficial da SBPT, com edição regular desde 1975) e os pesquisadores que realizaram os protocolos e publicaram seus resultados. Aguardo a avaliação do JCR de 2014, e tudo indica que essa incluirá novamente o JBP. Espero que fique claro que não houve má-fé por parte dos editores; temos trabalhado bastante no sentido de melhorar a qualidade de nossos periódicos.

A Diretoria da SBPT tem sido informada e vem acompanhando todos esses fatos. O apoio ao JBP é total. Estamos todos unidos no compromisso com a divulgação da pesquisa respiratória brasileira. É um momento delicado; porém, é muito importante a colaboração de nossos autores e revisores durante esse período para garantirmos a alta qualidade de nosso JBP.

Carlos Roberto Ribeiro Carvalho
Editor do Jornal Brasileiro de Pneumologia


Referências

1. Carvalho CR, Baldi BG, Jardim CV, Caruso P. Publication of the impact factor of the Brazilian Journal of Pulmonology: a milestone on a long and arduous journey. J Bras Pneumol. 2012;38(4):417-8.

2. Patel KK, Caramelli B, Silva MR. Articles on the cardiopulmonary system recently appeared in Brazilian clinical and surgical journals. Rev Assoc Med Bras. 2011;57(6):717-38.

3. Andriolo A, Souza AF, Farias AQ, Barbosa AJ, França Netto AS, Hernandez AJ, et al. Classification of Journals in the QUALIS System of CAPES - URGENT Need of Changing the Criteria! Arq Bras Cardiol. 2010;94(3):271-2, 290-1.

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