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Cartas ao Editor

Agenesia pulmonar unilateral

Unilateral pulmonary agenesis

Nulma Souto Jentzsch

Ao Editor:

Li com bastante interesse e congratulo os autores Malcon et al. que relatam a ocorrência de agenesia pulmonar unilateral em uma criança assintomática do sexo masculino de oito anos de idade, sem outras malformações associadas.(1)

Gostaríamos de relatar que atendemos uma criança do sexo feminino, de três meses de idade, procedente da cidade de Belo Horizonte (MG), nascida a termo, com exames pré-natais realizados sem intercorrências. Ela foi conduzida ao serviço de pediatria do Hospital Universitário São José, localizado na mesma cidade, em março de 2012, com queixa de tosse e febre que duravam 4 dias. Os pais negavam quaisquer comorbidades ou internações prévias da criança. A paciente apresentava-se com insuficiência respiratória aguda e necessitava de oxigênio por cateter nasal. Ao exame do aparelho respiratório, encontrou-se murmúrio vesicular diminuído em todo o hemitórax esquerdo, sem ruídos adventícios. Na radiografia de tórax (Figura 1), via-se opacificação total de hemitórax esquerdo, com traqueia e mediastinos desviados para a esquerda. Na TC de tórax, o pulmão esquerdo não foi visualizado (Figura 2). O ecodopplercardiograma revelou agenesia da artéria pulmonar esquerda, sem outras alterações cardíacas, e a broncoscopia demonstrou ausência completa do pulmão esquerdo e inexistência do coto brônquico. Foi estabelecido, então, o diagnóstico de agenesia pulmonar unilateral esquerda. A paciente evoluiu satisfatoriamente e está sendo acompanhada ambulatorialmente.






As malformações congênitas do pulmão são raras e variam muito na sua forma de apresentação clínica e gravidade, dependendo principalmente do grau de envolvimento pulmonar e de sua localização na cavidade torácica.(2) O início do desenvolvimento pulmonar ocorre durante os 50 primeiros dias de gestação, período denominado etapa embrionária: ao redor do 26º dia, ocorre invaginação da parte anterior do intestino primitivo e se forma o broto laringotraqueal; a partir daí, são formados os dois brônquios principais. Após 48 dias de gestação se inicia a formação dos brônquios segmentares e subsegmentares. As artérias pulmonares se formam a partir do sexto arco aórtico, e as veias pulmonares formam se a partir de invaginação da parte sinoatrial do coração. O desenvolvimento das vias aéreas condutoras se inicia precocemente; já os bronquíolos respiratórios, ductos alveolares e alvéolos formam-se posteriormente na gestação, nas etapas denominadas pseudoglandular, canalicular, sacular e alveolar.

Na agenesia pulmonar unilateral, o brônquio fonte de um dos lados não se desenvolve, ocorrendo a ausência de brônquio, parênquima e vasos pulmonares. Tem origem desconhecida e sua prevalência é de 0,5-1,0 para cada 10.000 nascidos vivos, incluindo as formas bilateral e unilateral. A forma bilateral é incompatível com a vida.(3)

Na agenesia pulmonar unilateral, a taxa de mortalidade no período neonatal é de aproximadamente 50%, principalmente se houver outras malformações associadas, principalmente as cardíacas.(4) Alterações músculo-esqueléticas, gastrointestinais e renais também podem existir. A taxa de mortalidade é maior quando a agenesia é no pulmão direito. Tal diferença pode ser explicada por um maior desvio mediastinal, levando a compressão traqueal.(3) O acometimento da agenesia é mais frequente à esquerda, ocasionando crescimento compensatório do pulmão remanescente e herniação do mesmo no tórax contralateral.(5)

Pacientes assintomáticos não necessitam de intervenção, principalmente na ausência de anomalias associadas; contudo, infecções pulmonares ou outras doenças pulmonares devem ser tratadas precocemente, e o paciente deve ter acompanhamento clínico para detectar possíveis alterações, como a hipertensão pulmonar. Às vezes, o diagnóstico da agenesia pulmonar unilateral é mais tardio, estabelecido na vida adulta em pacientes assintomáticos. Outras malformações associadas e infecções respiratórias de repetição são fatores que auxiliam o diagnóstico mais precoce.

O prognóstico é melhor quando a agenesia pulmonar é unilateral à esquerda e quando estão ausentes malformações cardíacas.

Nulma Souto Jentzsch
Professora Adjunta de Pediatria, Hospital Universitário São José, e Pesquisadora, Instituto de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Belo Horizonte (MG) Brasil


Referências

1. Malcon MC, Malcon CM, Cavada MN, Caruso PE, Real LF. Unilateral pulmonary agenesis. J Bras Pneumol. 2012;38(4):526-9. PMid:22964938 http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132012000400016

2. Chou AK, Huang SC, Chen SJ, Huang PM, Wang JK, Wu MH, et al. Unilateral lung agenesis--detrimental roles of surrounding vessels. Pediatr Pulmonol. 2007;42(3):242-8. PMid:17238192 http://dx.doi.org/10.1002/ppul.20561

3. Nandan D, Bhatt GC, Dewan V, Pongener I. Complete right lung agenesis with dextrocardia: an unusual cause of respiratory distress. J Clin Imaging Sci. 2012;2:81. PMid:23393637 PMCid:PMC3551508 http://dx.doi.org/10.4103/2156-7514.105140

4. Eroglu A, Alper F, Turkyilmaz A, Karaoglanoglu N, Okur A. Pulmonary agenesis associated with dextrocardia, sternal defects, and ectopic kidney. Pediatr Pulmonol. 2005;40(6):547-9. PMid:16161099 http://dx.doi.org/10.1002/ppul.20301

5. Alvarez AJ, Vaccaro MI, Verdejo HP, Villarroel CQ, Puentes RR. Unilateral pulmonary agenesis associated with multiple malformations-a case report [Article in Spanish]. Rev Chil Pediatr. 2000;71(1):41-5. http://dx.doi.org/10.4067/S0370-41062000000100008

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