Neste momento em que ambas as revistas - o Jornal Brasileiro de Pneumologia, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, e a Revista Portuguesa de Pneumologia (RPP), da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) - estão numa fase de internacionalização e de crescente reconhecimento no contexto do grupo de publicações dedicadas à patologia respiratória, encontrando-se ambas indexadas e com coeficientes de impacto, isso constitui, em nossa opinião, a oportunidade para intensificar os laços com aqueles de quem nos sentimos mais próximos. Efetivamente, o objetivo central da RPP é o de promover uma maior visibilidade e impacto da investigação acadêmica respiratória portuguesa e de criar condições para ser considerada uma revista relevante, no sentido de que os vários grupos de investigação internacional a possam considerar como um órgão credível e interessante para a publicação e divulgação da sua investigação. (1,2) Esse objetivo é a razão das alterações que temos efetuado na RPP, nomeadamente com um predomínio editorial da língua inglesa, de forma a facilitar o acesso global ao seu conteúdo. Paralelamente, é nosso propósito intensificar as relações com as revistas das sociedades com quem temos relações mais estreitas, preferencialmente com aquelas de língua oficial portuguesa e com as de língua espanhola. O Brasil tem aqui um lugar primordial, por razões óbvias: falamos a mesma língua, temos em grande parte os mesmos nomes e as mesmas origens, pertencemos a sociedades internacionais comuns e cooperamos de forma estreita na Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa. Além disso, existe na comunidade respiratória portuguesa um especial interesse na investigação brasileira e nos autores dessa proveniência que mais se destacam a nível internacional, o que se repercute na consulta regular das publicações de origem brasileira por parte de um número significativo de pneumologistas portugueses. Adicionalmente, o maior número de artigos internacionais publicados na RPP é de origem brasileira, tendo sido publicados nos anos de 2012-13 um total de 11 artigos com essa proveniência.(3) Para além de um óbvio predomínio de artigos originais de diferentes temas de patologia respiratória e de diferentes grupos de investigação brasileiros, foram igualmente objeto de publicação artigos de outra tipologia, como, por exemplo, editoriais, a pedido da direção da revista.(4) Verifica-se também que tem origem no Brasil o maior número de acessos ao sítio da RPP.(3)
A história das publicações científicas da pneumologia portuguesa iniciou-se em 1969 com a publicação da "Pneumologia-Revista Portuguesa de Patologia Respiratória", com edição e propriedade da Clínica de Doenças Pulmonares da Faculdade de Medicina de Lisboa, cerca de cinco anos antes da institucionalização da Sociedade Portuguesa de Patologia Respiratória (SPPR), primeira designação da SPP. Tratava-se de uma revista trimestral, bilíngue (português-inglês), cujo diretor era o insigne Professor Thomé George Villar. Fruto da carreira e da reputação internacional do seu diretor, a revista adotava um modelo inspirado nas revistas internacionais mais conceituadas, englobando nomeadamente a língua inglesa, a par do português, como língua oficial da revista, o que traduz a noção que tal seria essencial para a visibilidade e o impacto das publicações nacionais. Em 1978, essa revista foi substituída pela denominada "Medicina Torácica", também com periodicidade trimestral e sob a mesma direção. Em 1980, era publicado o primeiro número do órgão oficial da SPPR, designado por "Arquivos da SPPR", dirigido por outra das maiores figuras da pneumologia nacional, o Professor António José Robalo Cordeiro. Após mais de 30 anos, no decorrer dos quais se adotou a atual designação de "Revista Portuguesa de Pneumologia", foram tomadas pelos vários editores e conselhos editoriais as decisões que permitiram à RPP encontrar-se no presente momento num lugar de liderança no contexto das publicações médicas nacionais, das quais foram absolutamente determinantes sua indexação à PubMed em 2003, a primeira edição com tradução em inglês em 2005, a adesão à plataforma Elsevier em 2010, e a obtenção do primeiro fator de impacto em 2011. Efetivamente, no passado mês de Julho, a RPP recebeu pela quarta vez consecutiva por parte da Thomson Reuters-ISI Web of Knowledge, um fator de impacto, mais concretamente, o valor de 0,855. A RPP é hoje uma publicação bimestral, encontrando-se aberta à publicação de artigos originais, de investigação básica ou clínica, submetidos a uma avaliação rigorosa por parte do seu conselho editorial e do sistema peer review, de acordo com o seu estatuto.
Após vários anos de contacto permanente entre os conselhos editoriais do Jornal Brasileiro de Pneumologia e da RPP e das respectivas sociedades, os seus atuais responsáveis decidiram iniciar uma colaboração mais estreita, que se traduzirá por uma informação mais ativa e direta dos conteúdos de cada uma das revistas aos sócios de ambas as sociedades, para além do estímulo de publicações que resultem de parcerias entre grupos de investigação de ambos os países. Esta estratégia, estamos certos, permitirá uma maior visibilidade e um maior impacto dos conteúdos publicados em cada uma das revistas, para além de uma sinergia na colaboração entre investigadores dos dois países.
Parafraseando o grande poeta e cantor brasileiro Chico Buarque de Holanda, numa mensagem cantada enviada ao povo português na altura da revolução de abril de 1974 (ano da constituição da SPPR que deu origem à SPP), e agora noutro contexto, "sei que há léguas a nos separar, tanto mar, tanto mar, sei também quanto é preciso navegar, navegar ...", e este "abraço" será, estamos certos, extraordinariamente profícuo.
António Morais
Editor-Chefe da Revista Portuguesa de Pneumologia, Lisboa, Portugal
Carlos Robalo Cordeiro
Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Lisboa. Portugal
Referências
1. Winck JC, Morais A. Shaping the future of the Portuguese Journal of Pulmonology. Rev Port Pneumol. 2011;17(1):1-2. http://dx.doi.org/10.1016/S0873-2159(11)70001-0
2. Morais A. Impact factor 0.562--the ultimate goal or the next step forward? Rev Port Pneumol. 2013;19(5):189. http://dx.doi.org/10.1016/j.rppneu.2013.07.002
3. Morais A. What we have accomplished and what we can achieve. Rev Port Pneumol. 2014;20(2):55-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.rppneu.2014.02.003
4. Lorenzi-Filho G, Genta PR, Drager L. Obstructive sleep apnea and surgery: wake up for the problem! Rev Port Pneumol. 2013;19(4):142-3. http://dx.doi.org/10.1016/j.rppneu.2013.06.002