Gostaríamos de fazer alguns comentários em relação ao artigo de Jacomelli et al.,(1) que descreve uma experiência ini-cial do uso da ecobroncoscopia (EBUS) radial na investigação de 51 lesões pulmonares.
Primeiramente, encontramos divergências nos dados das Tabelas 1 e 2 no referido artigo. Os autores relataram, tanto no texto como na Tabela 1, que a sensibilidade do EBUS radial para nódulos visíveis foi de 74,1% a partir de 20 diagnós-ticos confirmados cirurgicamente entre 27 casos visíveis. Porém, na segunda coluna da Tabela 2, encontramos listados 21 casos de nódulos visíveis diagnosticados (10 doenças malignas e 11 não malignas), o que difere do somatório de 20 casos registrados na última linha da mesma coluna. Ainda na Tabela 2, um caso de hamartoma foi incluído erroneamente entre os nódulos malignos.
O trabalho apresenta, entre os resultados, o valor de 66,7% (34 diagnósticos de 51 casos) como sensibilidade global (diagnostic yield) do EBUS radial para doenças malignas e benignas. No entanto, não compreendemos, para o cálculo dessa sensibilidade, a inclusão de 3 casos não visíveis e, por isso, sem detecção por EBUS junto aos 31 casos visíveis com diagnóstico por esse método.
Adicionalmente, a prevalência de neoplasia, fator relevante para a análise do rendimento diagnóstico,(2) não foi infor-mada; tampouco o diagnóstico final das 12 lesões pulmonares não visíveis pelo EBUS radial. Dessa maneira, a apresen-tação dos resultados de Jacomelli et al.(1) difere em alguns aspectos de publicações importantes sobre o assunto.(2,3)
No Serviço de Pneumologia Intervencionista do Instituto Europeo di Oncologia de Milão, empregamos o EBUS radial para investigar nódulos e massas pulmonares desde 2012. Utilizamos o miniprobe com a bainha guia (K-203 Guide She-ath Kit; Olympus Medical Systems Corp., Tóquio, Japão) e fluoroscopia para a localização e sucessiva biópsia transbrôn-quica das lesões. Todos os procedimentos contam com a presença de um patologista para a realização do exame citoló-gico na sala de endoscopia (rapid on-site evaluation), conforme anteriormente descrito.(4) Acreditamos que tal sistemática é fundamental para aumentar o rendimento diagnóstico do procedimento, conforme descreveremos a seguir.
No ano de 2015, investigamos 161 lesões pulmonares (nódulos e massas) através do EBUS radial. Três pacientes com perda de seguimento foram excluídos da análise estatística. O exame não foi diagnóstico (inespecífico e sem relação com o diagnóstico final, ou constituído de epitélio brônquico ou lesão não visível ao EBUS) em 33 casos (23 doenças malignas e 10 benignas). Entre esses casos, houve 11 lesões não visíveis, que compreendiam exclusivamente opacidades meno-res de 40 mm. A sensibilidade global das biópsias realizadas com o EBUS radial foi de 79% (108 malignas e 17 benig-nas). A prevalência de doença maligna foi de 83%. A sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo e acurácia para neoplasia maligna entre as lesões detectadas com EBUS radial foram, respectivamente, de 88%, 100%, 57% e 89,5%.
Por fim, devemos destacar a importância do artigo de Jacomelli et al.,(1) pois além de ser o primeiro sobre EBUS radial no Brasil, ele é um exemplo de uso do crescente arsenal de ferramentas endoscópicas para a investigação e o tratamento de lesões pulmonares.
REFERÊNCIAS
1. Jacomelli M, Demarzo SE, Cardoso PF, Palomino AL, Figueiredo VR. Radial-probe EBUS for the diagnosis of peripheral pulmonary lesions. J Bras Pneumol. 2016;42(4):248-53. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37562015000000079
2. Steinfort DP, Khor YH, Manser RL, Irving LB. Radial probe endobronchial ultrasound for the diagnosis of peripheral lung cancer: systematic review and meta-analysis. Eur Respir J. 2011;37(4):902-10. http://dx.doi.org/10.1183/09031936.00075310
3. Eberhardt R, Ernst A, Herth FJ. Ultrasound-guided transbronchial biopsy of solitary pulmonary nodules less than 20 mm. Eur Respir J. 2009;34(6):1284-7. http://dx.doi.org/10.1183/09031936.00166708
4. Guarize J, Pardolesi A, Donghi S, Filippi N, Casadio C, Midolo V, et al. Endobronchial ultrasound for mediastinal staging in lung cancer patients. Multimed Man Cardiothorac Surg. 2014;2014. pii: mmu021. http://dx.doi.org/10.1093/mmcts/mmu021