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Editorial

Um patrimônio científico nacional

A national scientific treasure

José Antônio Baddini Martinez

Ao longo de anos recentes, o Jornal Brasileiro de Pneumologia sofreu uma série de transformações que lhe garantem agora projeção internacional. O início dessas mudanças relevantes pode ser identificado no ano de 2002, quando o então Jornal de Pneumologia foi incluído na iniciativa Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Esse foi o primeiro passo no processo de garantir a divulgação do conteúdo publicado aos leitores interessados, localizados em diversos pontos do planeta. Contudo, inicialmente, apenas os abstracts dos manuscritos eram publicados em inglês. A disponibilização na Internet do conteúdo integral dos trabalhos em língua inglesa, a partir de janeiro de 2003, certamente constitui o segundo marco decisivo para a internacionalização da nossa publicação.

No ano de 2004, foi criada a homepage própria da revista, e entrou em funcionamento o processo de submissão e análise dos artigos por via eletrônica. Esse passo foi importante para garantir a agilidade e a qualidade no processo de avaliação dos manuscritos pelos pares. Contudo, o elemento mais significativo para a divulgação do conteúdo publicado no Jornal aconteceu em novembro de 2006, com a sua indexação no sistema PubMed/Medline da National Library of Medicine dos Estados Unidos da América. A partir daí, os artigos da publicação passaram a ser parte do sistema de busca mais popular entre autores e leitores da área biomédica. Como reflexo imediato, artigos publicados no Jornal Brasileiro de Pneumologia começaram a ser citados por autores estrangeiros em diversas revistas internacionais. Um bom exemplo disso é o artigo de Lundgren et al.,(1) relacionado na meta-análise de Jing et al.(2) Ademais, palestrantes estrangeiros também têm feito menção a publicações do Jornal Brasileiro de Pneumologia em conferências internacionais. No ano de 2009, por exemplo, artigos de autoria de Saad Jr. et al.(3) e de Moritz et al.(4) foram citados nos congressos da American Thoracic Society e da European Respiratory Society, respectivamente. Muito relevante ainda é o fato de que a 23a edição internacional do clássico livro texto de medicina interna "Cecil Medicine",(5) publicada em 2007, contenha, como uma das citações do capítulo 98 "Lung Abscess", uma extensa série de casos publicada em nossa revista por Moreira et al.(6)

Neste ano que se encerra, outro marco extremamente importante foi atingido pelo nosso Jornal: a indexação no sistema ISI Web of Knowledge. A partir do volume 35, todo conteúdo publicado estará incluído no Science Citation Index Expanded, e o primeiro fator de impacto calculado para o Jornal Brasileiro de Pneumologia sairá publicado no Journal Citation Reports 2011. A relevância dessa realização nunca poderá ser contestada. Pertencer ao exíguo grupo de revistas médicas brasileiras listadas nesse banco de dados é um sonho cultivado ao longo de anos pelos associados da SBPT e é alvo, ainda a ser duramente perseguido, de inúmeras publicações de associações científicas nacionais.

É importante salientar que poucos periódicos biomédicos brasileiros têm indexação em bancos de dados internacionais. Entre as 5.398 publicações atualmente listadas em condição ativa no sistema PubMed/Medline, apenas 40 (0,7%) são revistas brasileiras. No sistema ISI Web of Knowledge estão listados no momento 11.261 títulos, dos quais 123 (1,1%) são brasileiros. Contudo, apenas 42 (0,4% do total) são revistas brasileiras ligadas à área biomédica. Quando cruzamos os títulos contidos nos dois sistemas, apenas 29 periódicos brasileiros estão listados simultaneamente como ativos nesses dois bancos de dados.

Sem dúvida, o estágio atual do Jornal Brasileiro de Pneumologia é elevado, tendo sido atingido apenas por um número restrito de publicações. Porém, devemos estar permanentemente atentos, pois o conquistado pode ser facilmente perdido na ausência de trabalho focado e por desatenção. É triste constatar que no sistema PubMed/Medline há a menção a 309 revistas brasileiras, das quais apenas 40 ainda têm indexação corrente. As causas para sua exclusão do sistema, muito provavelmente, envolvem a interrupção da publicação, irregularidades na periodicidade, má qualidade da produção publicada, entre outras.

Um historiador que se proponha, um dia, a descrever a trajetória do Jornal Brasileiro de Pneumologia - e do seu antecessor, o Jornal de Pneumologia - poderá, a meu ver, dividi-la em três fases: a inicial, a maioridade e a consolidação. A fase inicial iria do início da publicação até o momento da sua inclusão no SciELO. Nessa fase, o Jornal foi criado e conduzido, com dificuldades, por um grupo de pessoas idealistas e sonhadoras. O material publicado reflete o estágio nacional das pesquisas da pneumologia de então, que ainda não tinha atingido o volume expressivo e o grau de sofisticação dos dias atuais. A repercussão do publicado nessa fase foi limitada aos leitores associados da SBPT. A segunda fase, a da maioridade, inicia-se com a inclusão no sistema SciELO e termina com a indexação no sistema ISI Web of Knowledge. Esse é um período de numerosas e importantes mudanças que alavancaram o começo da projeção internacional da nossa publicação. Acredito que a partir de agora estaremos vivendo o início da terceira fase, a da consolidação.

A consolidação do Jornal Brasileiro de Pneumologia deve começar, de fato, com a divulgação do seu primeiro fator de impacto relativo a 2011 no ano de 2012. O principal objetivo dessa fase é tentar fazer, em dois ou três anos, com que o fator de impacto da publicação esteja acima de 1. Espera-se ainda que, idealmente, o valor desse índice vá progressivamente subindo ao longo dos anos seguintes. Essa, certamente, não será uma tarefa fácil e não estará na dependência apenas dos esforços do Editor-Chefe ou do Corpo Editorial do Jornal. Essa será uma tarefa hercúlea de todos os pesquisadores atuantes em áreas relacionadas com a medicina respiratória do Brasil. De fato, todos os pneumologistas brasileiros, particularmente os que trabalham na área acadêmica, poderão participar desse processo, simplesmente citando, sempre que possível, artigos publicados em nosso Jornal. Além de fazer referências aos manuscritos da nossa revista, muitos autores com renome internacional podem e devem sugerir a confecção e a submissão de artigos de revisão dentro das suas áreas de conhecimento. Para que o Jornal Brasileiro de Pneumologia adquira maior destaque e um fator de impacto expressivo, é ainda fundamental a submissão de artigos originais de qualidade por parte dos mais importantes centros de pesquisa pneumológica do Brasil.

Neste momento, faço um veemente apelo aos coordenadores dos programas de pós-graduação das universidades brasileiras e aos orientadores a eles ligados! Em meio a tantos trabalhos de excelente qualidade produzidos por tais grupos, não deixem de enviar um ou dois estudos originais por ano ao nosso Jornal! Ainda que os órgãos de avaliação da pós-graduação brasileira estimulem a publicação em revistas internacionais de maior impacto, é importante mostrar que somos capazes de pensar por nós mesmos, decidir pelo melhor por nós mesmos, e andar com as nossas próprias pernas! A pneumologia brasileira merece ter um veículo de divulgação próprio, à altura da inegável qualidade da sua produção científica atual! É muito importante termos em mente as palavras do Professor Maurício Rocha e Silva,(7) segundo o qual "(...) uma boa coleção de revistas autóctones é, cada vez mais, imperativo de soberania nacional. Nações que não as têm vão depender da boa vontade do primeiro mundo para publicar."

É igualmente importante reconhecermos que, com os progressos exibidos em menos de uma década, o Jornal Brasileiro de Pneumologia deixou de ser apenas a publicação da SBPT para seus associados, e tornou-se um patrimônio científico nacional. Ainda que alguns dos caminhos tomados ao longo dessa trajetória tenham se mostrado equivocados, o balanço final foi muito positivo. Além disso, a experiência nos ensina que devemos ser humildes para tomarmos novas rotas quando necessário.

Nesta fase que se encerra, quero agradecer sinceramente a todos aqueles que vêm colaborando constantemente com a nossa publicação, atuando como revisores ou submetendo artigos para possível publicação. Não poderia ainda deixar de reconhecer o excelente trabalho exercido pelos funcionários da SBPT e pelas empresas prestadoras de serviços. No ano que entra, espero continuar a contar com o indispensável apoio de todos vocês.

À medida que o meu ciclo à frente do Jornal Brasileiro de Pneumologia vai se esgotando, quero conclamar todos os pneumologistas brasileiros a vestirem as cores da nossa publicação. Vamos navegar, sempre em frente, todos juntos nessa nau, até limites nunca antes imagináveis!


José Antônio Baddini Martinez
Professor Associado, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (SP) Brasil
Editor-Chefe do Jornal Brasileiro de Pneumologia




Referências


1. Lundgren FL, Cabral MM, Clímaco DC, de Macedo LG, Coelho Mde A, Dias AL. Determination of the efficacy of FEV6 as a surrogate for FVC in the diagnostic screening for chronic obstructive pulmonary disease through the comparison of FEV1/FVC and FEV1/FEV6 ratios. J Bras Pneumol. 2007;33(2):148-51.

2. Jing JY, Huang TC, Cui W, Xu F, Shen HH. Should FEV1/FEV6 replace FEV1/FVC ratio to detect airway obstruction? A metaanalysis. Chest. 2009;135(4):991-8.

3. Saad Junior R, Dorgan Neto V, Botter M, Stirbulov R, Rivaben JH, Gonçalves R. Therapeutic application of collateral ventilation with pulmonary drainage in the treatment of diffuse emphysema: report of the first three cases. J Bras Pneumol. 2009;35(1):14-9.

4. Moritz P, Steidle LJ, Felisbino MB, Kleveston T, Pizzichini MM, Pizzichini E. Determination of the inflammatory component of airway diseases by induced sputum cell counts: use in clinical practice. J Bras Pneumol. 2008;34(11):913-21.

5. Goldman L, Ausiello D (editors). Cecil Medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2007.

6. Moreira Jda S, Camargo Jde J, Felicetti JC, Goldenfun PR, Moreira AL, Porto Nda S. Lung abscess: analysis of 252 consecutive cases diagnosed between 1968 and 2004. J Bras Pneumol. 2006;32(2):136-43.

7. Rocha-e-Silva M. The new Qualis, or the announced tragedy. Clinics (Sao Paulo). 2009;64(1):1-4.

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