Renata Salatti Ferrari1,a, Leonardo Dalla Giacomassa Rocha Thomaz2,b, Lucas Elias Lise Simoneti2,c, Jane Maria Ulbrich1,3,d, Cristiano Feijó Andrade1,3,e
ABSTRACT
Liquid perfluorocarbon (PFC) instillation has been studied experimentally as an adjuvant therapy in the preservation of lung grafts during cold ischemia. The objective of this study was to evaluate whether vaporized PFC is also protective of lung grafts at different cold ischemia times. We performed histological analysis of and measured oxidative stress in the lungs of animals that received only preservation solution with low-potassium dextran (LPD) or vaporized PFC together with LPD. We conclude that vaporized PFC reduces the production of free radicals and the number of pulmonary structural changes resulting from cold ischemia.
Keywords: Ischemia; Reperfusion; Fluorocarbons; Lung transplantation; Oxidative stress.
RESUMO
O perfluorocarbono (PFC) líquido tem sido estudado experimentalmente como uma substância adjuvante na preservação de enxertos pulmonares durante o período de isquemia fria. O objetivo deste estudo foi avaliar se o PFC vaporizado (e não instilado) também atuaria como protetor de enxertos pulmonares em diferentes tempos de isquemia fria. Realizamos análise histológica e dosamos o estresse oxidativo em pulmões de animais que receberam somente uma solução de preservação com low-potassium dextran (LPD, dextrana com baixa concentração de potássio) ou PFC vaporizado associado a LPD. Concluímos que o PFC vaporizado reduziu a produção de radicais livres e provocou menor número de alterações estruturais pulmonares decorrentes do período de isquemia fria que o uso de LPD isoladamente.
Palavras-chave: Isquemia; Reperfusão; Fluorcarbonetos; Transplante de pulmão; Estresse oxidativo.
Diferentes métodos e substâncias têm sido testados experimentalmente para melhorar a preservação pulmonar durante o período de isquemia fria, como o uso de surfactante pulmonar, perfluorocarbono líquido, inibidores do complemento, sulfureto de hidrogênio inalatório, nitritos e óxido nítrico inalatório. (1,2) No entanto, o método de preservação pulmonar para transplante ainda continua sendo a utilização de solução fria de low-potassium dextran (LPD, dextrana com baixa concentração de potássio) por via da artéria pulmonar (perfusão anterógrada) e/ou veias pulmonares (perfusão retrógada), associada ao uso de vasodilatadores pulmonares e armazenamento do pulmão em estado semi-inflado com oxigênio.(2) O uso de PFC vaporizado parece ser uma alternativa interessante na preservação pulmonar para transplante, uma vez que seu uso em estado líquido tem demonstrado proteção aos pulmões transplantados antes e após a reperfusão.(3-5) Os potenciais benefícios do PFC vaporizado na preservação pulmonar seriam sua capacidade de transportar oxigênio e dióxido de carbono e por possuir propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes.(6-8) Além disso, na sua forma vaporizada, o PFC é facilmente distribuído por todo o pulmão de uma forma mais uniforme e, sobretudo, não apresenta as dificuldades de ventilação daqueles pulmões encharcados com PFC líquido. Para verificar os efeitos do PFC vaporizado durante a preservação pulmonar utilizamos um modelo animal de isquemia fria para a análise do estresse oxidativo e das alterações histológicas nos pulmões preservados em diferentes períodos de tempo. Este foi um estudo experimental controlado envolvendo ratos Wistar com uma média de peso corporal de 300 g. Todos os animais foram tratados de acordo com o Código Ético da Organização Mundial de Saúde para Experimentação Animal. Os animais foram divididos em dois grupos, subdivididos em quatro grupos cada. Cada subgrupo compreendia seis animais, de acordo com o procedimento cirúrgico: subgrupos PFC + LPD 3h; PFC + LPD 6h; PFC + LPD 12h; e PFC + LPD 24h vs. subgrupos LPD 3h; LPD 6h; LPD 12h; e LPD 24h. Nos quatro subgrupos PFC + LPD, independentemente do tempo de preservação, utilizou-se uma dose de 7 ml/kg de PFC vaporizado em cânula de traqueotomia conectada a um equipamento de anestesia, após o período de reperfusão de 120 min. Os animais foram sacrificados após terem sido anestesiados com cetamina i.p. (100 mg/kg) e xilazina (50 mg/kg). Posteriormente, realizou-se uma laparotomia ventral média. Os pulmões foram removidos e fixados em paraformaldeído a 4% para a análise histológica e armazenados a −80°C para posteriormente quantificar thiobarbituric acid reactive substances (TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico) e avaliar a atividade das enzimas antioxidantes superóxido dismutase (SOD) e catalase. Para realizar a análise bioquímica, o tecido pulmonar foi homogeneizado, após o qual os níveis de proteína foram quantificados de acordo com Lowry et al.(9) A medição do TBARS foi realizada conforme estabelecido por Buege e Aust,(10) e a determinação da atividade de SOD foi realizada de acordo com a técnica descrita por Misra e Fridovich.(11) A análise da atividade da catalase foi baseada na mensuração da redução do peróxido de hidrogênio.(12) As amostras para a análise histológica do tecido pulmonar foram coletadas e armazenadas durante 12 h em solução de formaldeído a 10%, transferidas para álcool a 70% e coradas com H&E. O exame anatomopatológico foi realizado por um patologista de forma cegada. Os dados foram analisados utilizando o software estatístico SPSS Statistics, versão 22.0 (IBM Corporation, Armonk, NY, EUA). Utilizou-se ANOVA seguida do teste post hoc de Tukey; no caso de variâncias desiguais ou distribuição anormal, foi realizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, seguido do teste U de Mann-Whitney para comparações intergrupos. Em todas as comparações, o nível de significância foi estabelecido em 5%. Os pulmões preservados por 3 e 6 h, utilizando uma dose de 7 ml/kg de PFC vaporizado + LPD, apresentaram um aumento significativo da concentração da SOD quando comparada à da dos subgrupos LPD 3h e LPD 6h, respectivamente. Não verificamos diferenças significativas nos níveis de TBARS e catalase entre esses subgrupos (Figura 1).