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Artigo Original

Tabagismo em trabalhadores da indústria no Brasil: associação com fatores sociodemográficos, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse

Smoking among industrial workers in Brazil: association with sociodemographic factors, alcohol consumption, and stress levels

Pablo Magno da Silveira1, Kelly Samara da Silva1, Gabrielli Thais de Mello1, Margarethe Thaisi Garro Knebel1, Adriano Ferreti Borgatto1, Markus Vinicius Nahas1

DOI: 10.1590/1806-3713/e20180385

ABSTRACT

Objective: To determine the prevalence of smoking, as well as its association with sociodemographic factors, alcohol consumption, and stress levels, among industrial workers in Brazil. Methods: This was a nationwide survey, conducted in 24 capitals in Brazil through the application of a pre-tested questionnaire. The response to the question "What is your smoking status?" was the outcome variable. To determine the associations, we performed Poisson regression analyses in which the inputs were blocks of variables: block 1 (age and marital status); block 2 (level of education and gross family income); block 3 (geographic region); and block 4 (alcohol consumption and stress level). All analyses were stratified by gender. Results: The sample consisted of 47,328 workers ≥ 18 years of age, of whom 14,577 (30.8%) were women. The prevalence of smoking was 13.0% (15.2% in men and 7.9% in women). Advancing age, alcohol consumption, and a high stress level were positively associated with smoking. A lower risk of smoking was associated with being married, having a higher level of education, and living in the northeastern region of the country (versus the southern region). Conclusions: The prevalence of smoking was greater in men than in women. Alcohol consumption and high stress levels appear to promote smoking.

Keywords: Tobacco use disorder/epidemiology; Tobacco smoking; Occupational health; Industry; Brazil.

RESUMO

Objetivo: Determinar a prevalência de tabagismo e sua associação com fatores sociodemográficos, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse em trabalhadores industriários no Brasil. Métodos: Inquérito nacional realizado em 24 capitais brasileiras através da aplicação de um questionário previamente testado. A variável de desfecho foi obtida através da pergunta: "Com relação ao fumo, qual a sua situação?". Para determinar as associações, foram realizadas análises de regressão de Poisson com entrada de variáveis em blocos: nível 1 (idade e estado civil); nível 2 (escolaridade e renda familiar bruta); nível 3 (região geográfica) e nível 4 (consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse). Todas as análises foram estratificadas por sexo. Resultados: A amostra foi composta por 47.328 trabalhadores com 18 anos ou mais de idade, sendo 14.577 mulheres (30,8%). A prevalência de tabagismo foi de 13,0% (15,2% em homens e 7,9% em mulheres). Aumento da faixa etária, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse elevado associaram-se positivamente ao tabagismo. Estar casado, ter maior nível de escolaridade e residir na região nordeste do país (quando comparada com a região sul) estiveram associados com menores probabilidades de tabagismo. Conclusões: A prevalência de tabagismo variou entre os sexos, sendo maior entre os homens. O consumo de bebidas alcoólicas e o nível de estresse elevado favoreceram o uso do tabaco.

Palavras-chave: Tabagismo; Fumar tabaco; Trabalhadores; Adulto; Brasil.

INTRODUÇÃO

O tabagismo é um importante fator de risco para diversas morbidades e está associado ao surgimento precoce de doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, alguns tipos de câncer, acidente vascular cerebral e aumento de mortalidade.(1) Mesmo assim, mundialmente, 928 milhões de homens e 207 milhões de mulheres têm o hábito de fumar.(2)

No Brasil, dados de um inquérito telefônico nacional mostraram uma diminuição na prevalência de fumantes com ≥ 18 anos de idade: de 15,6% no ano de 2006 para 10,8% em 2014.(3) Em 2017, esses valores se aproximaram de 10%, sendo maior entre os homens (13,2%) que entre as mulheres (7,5%).(4) Por conseguinte, o hábito de fumar difere conforme fatores sociodemográficos, como o sexo e o status econômico.(3,5) Estudos têm apontado que homens(4) adultos, com menor renda familiar e menor escolaridade(6) são mais propensos ao tabagismo. Ainda, determinadas condições de risco parecem ter relação direta com o uso de tabaco, como, por exemplo, o consumo de álcool e o nível de estresse.(7,8)

Apesar desses levantamentos, ainda é desconhecido se esses comportamentos da população geral se manifestam com o mesmo padrão entre os trabalhadores da indústria, pois sabe-se que as circunstâncias desse grupo social são determinadas por fatores sociais, econômicos e organizacionais, assim como por condições de trabalho e de vida, além de fatores de riscos ocupacionais específicos.(9)

A vigilância desses diferentes fatores em paralelo ao monitoramento do uso do tabaco,(3,10,11) o conhecimento dos efeitos deletérios do hábito de fumar e o entendimento da importância da prevenção(12) podem potencializar a criação e implantação de políticas antitabagistas no ambiente de trabalho, como a Lei Antifumo de 2011. (13) Essas ações visam a redução dos malefícios à saúde decorrentes do hábito de fumar e de suas consequências mais graves, como o surgimento de morbidades e a mortalidade precoce atribuíveis ao uso do tabaco.(14)

Considerando que trabalhadores da indústria correspondem a uma classe específica de adultos trabalhadores brasileiros, os quais são submetidos a diferentes rotinas de trabalho, pretendeu-se avaliar se exposições ao consumo de bebidas alcoólicas e a situações de estresse se associam ao hábito de fumar. Assim, o presente estudo teve como objetivo verificar a prevalência de tabagismo em trabalhadores de indústrias no Brasil e sua associação com fatores sociodemográficos, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse.

MÉTODOS

O presente estudo faz parte de uma pesquisa nacional denominada "Estilo de Vida e Hábitos de Lazer de Trabalhadores da Indústria",(15) realizada pelo Serviço Social da Indústria (SESI) em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina, entre 2006 e 2008, com a participação de 24 das 27 unidades federativas do Brasil. Trata-se de um estudo representativo dos trabalhadores brasileiros da indústria nas capitais brasileiras. Não participaram do inquérito em tempo hábil os estados do Rio de Janeiro, Piauí e Sergipe.

Em 2006, o Brasil contava com aproximadamente 5.293.000 trabalhadores na indústria.(16) Para a pesquisa, cada departamento regional do SESI forneceu informações de cadastro e do número de trabalhadores de cada empresa da unidade federativa que representava. O tamanho da população foi fornecido por cada departamento regional, e, com esses dados, a amostra foi calculada, usando os seguintes parâmetros: prevalência estimada de 45% de inatividade física no lazer, obtida a partir de um inquérito realizado em Santa Catarina, que tinha como objetivo principal identificar a prevalência de inatividade física no lazer,(17) erro amostral de 3 pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%. Após o cálculo, o tamanho mínimo da amostra foi aumentado em 50% como estratégia para atenuar o efeito do delineamento amostral; em seguida, acresceu-se mais 20% ao tamanho da amostra em decorrência de possíveis perdas no processo de coleta.(15) A soma total das amostras em cada departamento regional resultou em 52.774 trabalhadores. O plano de amostragem foi executado separadamente em cada departamento regional em dois estágios: 1. recorreu-se à seleção aleatória de empresas, considerando a distribuição dos trabalhadores em empresas conforme o porte: pequeno (20-99 trabalhadores), médio (100-499) e grande (≥ 500), sendo selecionadas aleatoriamente 10-50% das empresas de pequeno, médio e grande porte, a depender do número de empresas existentes e do número requerido de trabalhadores para a composição da amostra; e 2. foram selecionados aleatoriamente (amostragem sistemática) os trabalhadores em cada uma das empresas sorteadas na fase anterior do processo amostral. Após a elaboração, o plano amostral foi encaminhado a cada departamento regional para realizar contato com as empresas e aplicar os questionários. As empresas que não permitiram a aplicação dos questionários foram substituídas por empresas do mesmo porte e, quando possível, do mesmo ramo. Para a substituição do trabalhador, por falta ou afastamento, procedeu-se à escolha do nome imediatamente posterior na relação de empregados fornecida pela empresa. Mais detalhes podem ser consultados em uma publicação anterior.(15)

Os dados do presente estudo foram levantados através de um questionário com 58 questões autorrelatadas. (17) Validações de conteúdo e lógica foram realizadas. Valores de índices kappa e coeficientes de correlação intraclasse variaram de 0,40 a 0,79.(17) Para o presente estudo, foram utilizados 9 itens do questionário: consumo de tabaco ("Com relação ao fumo, qual a sua situação?"); consumo de álcool ("Quantas doses de bebidas alcoólicas você toma em uma semana normal?"); nível de estresse ("Como você classifica o nível de estresse em sua vida?"); região geográfica do departamento regional de trabalho; sexo; idade; estado civil (casado/morar com companheiro ou outros); nível de escolaridade; e renda familiar bruta. As formas de coleta e operacionalização das variáveis podem ser visualizadas no Quadro 1.
 



Utilizou-se a distribuição de frequência relativa para descrever as variáveis estudadas. Realizou-se a análise de regressão de Poisson, bruta e ajustada, para determinar a associação das variáveis perfil demográfico, perfil socioeconômico, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse com o tabagismo. No modelo ajustado adotou-se o nível crítico de p ≤ 0,05 para a seleção das variáveis, com o intuito de controlar possíveis fatores de confusão.

A entrada das variáveis respeitou o conceito teórico de ordenação dos blocos segundo Dumith,(18) seguindo a seguinte ordem: nível 1 (idade e estado civil); nível 2 (escolaridade e renda familiar bruta); nível 3 (região geográfica); e nível 4 (consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse). Nas análises ajustadas, as variáveis do nível subsequente foram controladas pelas variáveis dos níveis anteriores. Todas as análises foram estratificadas por sexo e adotou-se um nível de significância estatística de 5% (p < 0,05). Para as análises estatísticas foi usado o pacote estatístico Stata, versão 15 (StataCorp LP, College Station, TX, EUA)

O inquérito foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (Pareceres nos. 306/2005 e 009/2007). O SESI, entidade parceira na realização do inquérito, autorizou esta análise secundária de dados.

RESULTADOS

A amostra total foi composta por 47.328 industriários, e desses, 33.057 eram homens (69,2%). A prevalência de tabagismo entre os trabalhadores foi de 13,0% (15,2% em homens e 7,9% em mulheres; Tabela 1).
 



Observaram-se maiores prevalências de tabagismo em homens com idade < 30 anos (38,6%), casados (61,8%), com ensino médio completo (37,0%), com renda familiar bruta mensal de R$ 601,00 a R$1.500,00 (39,7%), residentes na região norte do país (32,5%), que consumiam de 1 a 7 doses de bebidas alcoólicas por semana (47,6%) e que relataram estar raramente ou às vezes estressados (em 84,3%).

Após a análise ajustada, foi verificado que as variáveis idade, estado civil, escolaridade, renda familiar, região geográfica, consumo de álcool semanal e nível de estresse permaneceram associadas ao tabagismo (Tabela 2).
 



Entre as mulheres, as maiores prevalências de tabagismo foram encontradas nas que tinham < 30 anos de idade (em 34,2%), estado civil "outro" (em 58,7%), com ensino médio completo (em 45,3%), renda familiar bruta mensal até R$ 600,00 (em 37,0%), residentes na região nordeste do país (em 24,7%), que não consumiam bebidas alcoólicas (em 54,9%) e que relataram estar raramente ou às vezes estressadas (em 74,4%). Após a análise ajustada, permaneceram associadas ao tabagismo: faixa etária (30-39 anos e ≥ 40 anos); estado civil (casado); escolaridade (ensino médio completo e ensino superior completo); região geográfica (nordeste e norte); consumo de álcool/semana (1-7 doses e ≥ 8 doses); e nível de estresse (quase sempre/sempre; Tabela 3).
 



DISCUSSÃO

No presente estudo, 1 em cada 10 mulheres e 2 em cada 10 homens trabalhadores tinham o hábito de fumar. Os resultados das análises de associação apontaram que ter > 30 anos de idade, consumir bebidas alcoólicas e ter níveis de estresse aumentados relacionaram-se a maior prevalência de tabagismo em homens e mulheres, enquanto morar nas regiões sul ou norte foi relacionado somente em homens. Por outro lado, possuir um maior nível de escolaridade e estar casado foram relacionados a menor prevalência de tabagismo independentemente do sexo. Possuir uma renda familiar intermediária (R$ 601-R$ 1.500) e morar na região nordeste para os homens, e residir nas regiões nordeste ou norte para as mulheres foi relacionado a menor prevalência de tabagismo.

Entre 1990 e 2015, o hábito de fumar caiu consideravelmente na população brasileira, fato que pode ser atribuído às políticas de controle, regulação e prevençã.(3,11) Como exemplo, se destaca o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que tem por objetivo reduzir a prevalência de fumantes seguindo um modelo no qual ações de educação, comunicação e atenção à saúde, associadas a medidas legislativas e econômicas, se potencializam para prevenir a iniciação ao tabagismo, promover a cessação tabágica e proteger a população da exposição à fumaça ambiental do tabaco.(19)

O presente estudo mostrou que os homens fumam mais que as mulheres, corroborando a literatura, que aponta como possível explicação a adoção, por parte das mulheres, de hábitos de vida mais saudáveis, maiores cuidados e, consequentemente, escolhas mais positivas em relação à saúde.(20,21)

A relação entre tabagismo e idade verificada entre os industriários parece ser semelhante ao que ocorre na população em geral.(3,11) Dados de um inquérito nacional de 2017(4) apontaram uma maior prevalência de adultos fumantes na faixa etária de 45-54 anos (11,2%) em comparação a adultos com 18-24 anos (8,5%). Apesar de ser o período da vida onde surgem as primeiras experiências com o cigarro, os mais jovens fumam menos no Brasil, possível reflexo de campanhas e ações direcionadas aos não fumantes(22) e de políticas públicas intersetoriais, tais como o Programa Saúde na Escola e o Programa Saber Saúde, que abordam a prevenção dentro das escolas.(23) Além disso, a legislação brasileira atua visando reduzir o contato dos mais jovens com o tabaco, proibindo a venda de cigarros para os menores de 18 anos, propagandas desses produtos em veículos de comunicação e patrocínios em eventos esportivos e culturais.(19) Somado a isso, uma política tributária sobre produtos industrializados vem sendo aplicada sobre os maços de cigarro, originando uma alta nos valores finais de venda.(24)

Nossos resultados mostraram que o status conjugal esteve associado ao tabagismo, indicando uma proteção ao tabagismo para aqueles casados/com companheiro. Diferentes explicações para esse fato partem do pressuposto de que as relações conjugais parecem propiciar uma série de resultados com a aquisição de diferentes comportamentos de saúde, sendo que o maior suporte social recebido por sujeitos casados parece favorecer o abandono do hábito de fumar, enquanto aqueles sem companheiros têm maior tendência à solidão, menor suporte social e elevados níveis de estresse gerados por uma eventual separação, o que pode estimular o hábito de fumar.(25)

No presente estudo, o aumento da escolaridade fez diminuir as prevalências do uso do tabaco em ambos os sexos. Esse resultado corrobora o perfil da população brasileira; foi demonstrado que a proporção de fumantes diminui com o aumento dos anos de escolaridade tanto entre homens quanto entre mulheres.(4) Em estudos conduzidos em outros países, como Rússia(26) e Índia,(27) o comportamento entre variáveis de cunho educacional e o tabagismo foi semelhante. Nessa questão, destaca-se a importância de se entender os fatores que interferem na adoção de modos de vida saudáveis e o quanto as diversas ações de controle do tabagismo alcançam homens e mulheres de diferentes estratos sociais e níveis de escolaridade.(28)

Em nosso estudo, nenhuma categoria de renda familiar esteve relacionada com tabagismo em ambos os sexos. Independentemente disso, o impacto dos gastos em relação à renda geral parece distinto entre as faixas de renda, pois indivíduos com maior renda gastam proporcionalmente menos em produtos de tabaco, mas, ao mesmo tempo, dispõem de maior acessibilidade a recursos para a cessação do hábito de fumar.(29)

Ao mapear o Brasil de acordo com as regiões geográficas, nota-se que, para ambos os sexos, os trabalhadores da região nordeste apresentaram menor probabilidade de fumar quando comparados aos da região sudeste do país. Ainda, entre as mulheres, a região norte também se destacou por apresentar menor probabilidade de tabagismo quando comparada à região sudeste do país. Um estudo com adultos brasileiros observou que a prevalência de fumo diário variou de 12,8% na região norte a 17,4% na região sul.(30) Esse achado pode, de certa forma, explicar a maior prevalência de tabagismo na região sul, pois dois dos três estados dessa região, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são responsáveis por grande parte da produção nacional de fumo, o que pode estar influenciando o maior consumo de tabaco nessa região.(31) Ainda, o maior consumo nessa região pode ser atribuído a aspectos culturais, como a forte influência de populações europeias migrantes e a proximidade de países como Argentina e Uruguai, que atingem prevalências de tabagismo próximas a 30%. (11) Da mesma forma, alguns estudos de prevalência coordenados pelo governo federal apresentam um maior número de fumantes também na região sul.(15,31-33)

Quanto ao consumo de álcool, foi observado que o aumento gradativo no consumo de doses de bebidas alcoólicas também faz aumentar as prevalências de tabagismo. Esse achado é semelhante aos de outros estudos no Brasil, que associaram comportamentos de risco em adultos. (8,34) Outro estudo monitorou a prevalência de características e comportamentos relacionados à saúde nos Estados Unidos, Guam, Porto Rico e Ilhas Virgens e observou-se que indivíduos fumantes eram mais propensos a consumirem álcool compulsivamente do que ex-fumantes ou não fumantes.(35) Por conseguinte, o uso de álcool e nicotina em conjunto leva a uma maior vontade de consumir ambas as substâncias.(36) A natureza da relação entre nicotina e álcool sugere que a gravidade da dependência de uma droga poderia ser usada para a outra concomitantemente.(37) Segundo a Organização Mundial da Saúde, há uma tendência crescente, em âmbito mundial, de indivíduos usarem variadas substâncias psicoativas em conjunto e em diferentes momentos, gerando um aumento dos riscos à saúde.(38)

Os achados do presente estudo apontaram que trabalhadores com níveis de estresse aumentados apresentaram uma maior prevalência de tabagismo em ambos os sexos. A associação bidirecional pode ocorrer, conforme levantado em outro estudo que, ao analisar bancários, observou uma probabilidade de estresse aumentada em 29% nos fumantes.(39) É plausível que essa relação possa ser suscitada a partir da pressão ocupacional sofrida em consequência da precarização do trabalho e do acúmulo de funções e responsabilidades que podem implicar em susceptibilidade ao estresse,(40) potencializando o reforço ao consumo de tabaco.(7)

O estudo apresenta algumas limitações: i) os resultados são dependentes do critério usado para definir "tabagismo", e as comparações devem considerar esse aspecto; ii) os dados representam os trabalhadores da indústria das capitais brasileiras, podendo não refletir a realidade de trabalhadores de outras localidades e em outros contextos de trabalho; iii) os dados representam um cenário entre os anos 2006 e 2008 e podem não retratar o panorama atual dos trabalhadores; e iv) a amostra foi calculada especificamente para a inclusão de trabalhadores adultos, não representando a população idosa.

Atualmente, o debate sobre a saúde do trabalhador deve considerar o quadro de transformações que estão em curso no mundo do trabalho, no sentido de melhorar o estilo de vida desses trabalhadores. Os resultados mostraram que o comportamento de variáveis como sexo, idade, escolaridade, consumo de álcool e nível de estresse entre os trabalhadores da indústria se assemelha ao encontrado na população de forma geral, indicando que o entendimento pode ser similar. Não obstante, mais estudos precisam ser encorajados, como levantamentos longitudinais, que permitam acompanhar o real impacto dessas e de outras variáveis em relação ao tabagismo nessa população, bem como estudos de intervenção que permitam testar ações favoráveis à mudança de comportamento.

Em síntese, o estudo revelou que 1 em cada 10 trabalhadores fuma, sendo esse hábito maior em homens e em trabalhadores com mais de 30 anos de idade. Ainda, o consumo de bebidas alcoólicas e níveis aumentados de estresse são fatores que potencializam o hábito de fumar.

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

PMS e KSS participaram da concepção do estudo, revisão bibliográfica, interpretação de dados, redação, revisão crítica e aprovação final do artigo. GTM e MTGK participaram da concepção de estudo, análise e interpretação de dados, redação, revisão crítica e aprovação final do artigo. AFB e MVN prepararam e coordenaram o projeto, fizeram a coleta de dados, participaram do projeto do manuscrito, revisão crítica e aprovação final do artigo.

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