No número anterior do Jornal Brasileiro de Pneumologia, Martins et al.(1) compararam pacientes com pneumonite de hipersensibilidade (PH) crônica e controles quanto à prevalência de apneia obstrutiva do sono (AOS), padrões de dessaturação noturna, e distribuição e eficiência do sono. Também foi testada a acurácia de questionários para a detecção de AOS. O estudo incluiu 40 pacientes com diagnóstico de PH crônica e 80 controles cujos resultados espirométricos estavam dentro dos parâmetros de normalidade. A seleção dos pacientes com PH crônica seguiu critérios específicos estabelecidos por Salisbury et al.,(2) com controles pareados por sexo, idade e IMC. Parabenizamos os autores pelo estudo, dada a escassez de dados sobre AOS em pacientes com PH crônica.
Estudos anteriores relataram alta prevalência de AOS em pacientes com doença pulmonar intersticial (DPI): uma prevalência de 68-88%.(3-5) Pequenos estudos observacionais mostraram prevalência semelhante de AOS em pacientes com DPI.(6) A alta prevalência de AOS em pacientes com DPI pode ser explicada pela também alta prevalência de AOS em adultos, especialmente em idosos.(7) Além disso, a potencial diminuição do volume pulmonar causada pela DPI pode aumentar a colapsabilidade das vias aéreas superiores em virtude da redução da tração traqueal na faringe.(8) A associação entre DPI e AOS é potencialmente prejudicial; evidências anteriores mostram seu impacto negativo na dessaturação noturna e sobrevida.(9)
O principal achado do estudo de Martins et al.(1) foi que a prevalência de AOS foi semelhante em pacientes com PH crônica e controles pareados. Outro achado relevante foi que os questionários para avaliar a presença de AOS em indivíduos com PH crônica não são precisos. Além disso, o estudo revelou que a qualidade do sono dos pacientes com PH crônica era pior que a dos controles. No entanto, não é possível estimar se o comprometimento da qualidade do sono ocorreu em virtude da doença pulmonar de base ou da AOS. Estudos futuros devem comparar pacientes com PH crônica e controles, incluindo pacientes com e sem AOS para explorar como cada doença pode contribuir para o comprometimento da qualidade do sono. Os autores também mostraram maior porcentagem de tempo total de sono com SpO2 abaixo de 90% no grupo com PH crônica do que no grupo controle, o que poderia aumentar a morbidade.
Os autores apontaram várias limitações do estudo. A amostra foi relativamente pequena e os participantes foram recrutados em um único centro, limitação que restringe a generalização dos resultados e sua representação em diferentes contextos clínicos. O estudo também excluiu pacientes em estágios mais avançados de PH crônica, o que pode ter influenciado a prevalência de AOS e a interpretação dos resultados dos testes. Outra limitação foi a ausência de uma descrição detalhada dos resultados espirométricos no grupo controle. Apesar dessas limitações, os achados do estudo de Martins et al.(1) são importantes porque demonstram uma relação complexa e ainda não plenamente compreendida entre DPI, particularmente PH crônica, e AOS. O estudo ressalta a alta prevalência de AOS em pacientes com PH crônica e enfatiza a necessidade de uma investigação mais profunda da qualidade do sono e oxigenação noturna desses pacientes. Além disso, à semelhança de outros estudos, ressalta que os questionários do sono não são capazes de identificar com precisão a presença de AOS nessa população.(4,10,11) Embora a prevalência seja alta, atualmente não se justifica a avaliação sistemática de pacientes com PH crônica quanto à presença de AOS. Estudos que avaliem o impacto do tratamento da AOS em indivíduos com PH crônica poderão, no futuro, determinar a utilidade do rastreamento sistemático da AOS.
CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES
Ambos os autores contribuíram igualmente para a redação e revisão do manuscrito e aprovaram a versão final.
CONFLITOS DE INTERESSE
Nenhum declarado.
REFERÊNCIAS
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2. Salisbury ML, Myers JL, Belloli EA, Kazerooni EA, Martinez FJ, Flaherty KR. Diagnosis and Treatment of Fibrotic Hypersensitivity Pneumonia. Where We Stand and Where We Need to Go. Am J Respir Crit Care Med. 2017;196(6):690-699. https://doi.org/10.1164/rccm.201608-1675PP
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