ABSTRACT
Objective: To determine the frequency of near-fatal asthma in a group of severe asthma patients, as well as the clinical characteristics and prognosis of these patients within a one-year follow-up period. Methods: A prospective study involving 731 low-income patients with severe asthma treated at a referral outpatient clinic located in the city of Salvador, Brazil. The patients were submitted to spirometry at admission, received medications for asthma, and were monitored regarding the frequency of asthma exacerbations during the follow-up period. A subsample of 511 patients also completed questionnaires regarding asthma symptoms and asthma-related quality of life. Results: Of the 731 patients studied, 563 (77%) were female. The median age was 47 years, and 12% were illiterate. Most of the patients had rhinitis, and 70 patients (10%) reported near-fatal asthma prior to admission. Of these 70 patients, 41 (59%) reported having been intubated previously. The patients reporting a history of near-fatal asthma at admission were more likely to have asthma exacerbations during the follow-up period and to respond poorly to therapy than were those not reporting such a history. At the end of the follow-up period, the scores on the two questionnaires were similar between the two groups of patients. Conclusions: The frequency of near-fatal asthma was high in this group of low-income patients with severe asthma. The patients with a history of near-fatal asthma had a worse prognosis than did those without such a history, although both groups had received the same kind of treatment. Curiously, the intensity of symptoms and the quality of life at the end of the study were similar between the two groups.
Keywords:
Asthma/prevention and control; Asthma/complications; Quality of life; Prognosis.
RESUMO
Objetivo: A linfangioleiomiomatose (LAM) é caracterizada pela presença de cistos pulmonares, cuja formação está associada à hiperreatividade de metaloproteinases de matriz (MMP), principalmente MMP-2 e MMP-9. Objetivamos comparar os níveis dessas MMPs entre pacientes com LAM e controles saudáveis, assim como avaliar, nas pacientes com LAM, a segurança e a eficácia do tratamento com doxiciclina, um potente inibidor de MMPs. Métodos: Estudo clínico prospectivo no qual as pacientes com LAM receberam doxiciclina (100 mg/dia) por seis meses, coletando-se amostras de urina e sangue para a dosagem de MMP-2 e MMP-9 antes e ao final do período. Foram ainda obtidas amostras de 10 mulheres saudáveis. Resultados: De 41 pacientes com LAM que iniciaram o tratamento, 34 concluíram o protocolo. Os níveis de MMP-9 sérica e urinária foram significativamente inferiores no grupo controle (p < 0,0001). Comparando-se os valores antes e após o tratamento, a mediana do nível sérico da MMP-9 reduziu de 919 ng/mL para 871 ng/mL (p = 0,05), enquanto a mediana da dosagem urinária de MMP-9 diminui de 11.558 pg/mL para 7.315 pg/mL (p = 0,10). A mediana da MMP-2 sérica apresentou um decréscimo significativo após o tratamento (p = 0,04). Não foram detectados níveis de MMP-2 urinária. Epigastralgia, náuseas e diarreia foram os efeitos adversos mais prevalentes, e geralmente autolimitados. Apenas 1 paciente interrompeu o tratamento devido a efeitos colaterais. Conclusões: Pela primeira vez, conseguiu-se evidenciar em pacientes com LAM a redução dos níveis séricos e urinários de MMPs após o uso de doxiciclina, que se mostrou uma medicação segura, com efeitos colaterais leves e toleráveis.
Palavras-chave:
Linfangioleiomiomatose; Metaloproteinases da matriz; Doxiciclina.
IntroduçãoA linfangioleiomiomatose (LAM) pulmonar é uma doença cística rara que afeta mulheres em idade fértil, com incidência de aproximadamente 2,6 por milhão de habitantes.(1) Pode ocorrer esporadicamente ou associada à síndrome autossômica denominada esclerose tuberosa.(2)
O quadro clínico mais frequente é caracterizado por dispneia, pneumotórax e angiomiolipoma renal; porém, o acometimento do sistema linfático, através de quilotórax ou linfangiomas, também pode estar presente.(3-6) Na TC de tórax evidenciam-se cistos com paredes finas e bem delimitadas, distribuídos difusamente.(7)
Histologicamente são evidenciados aglomerados de células musculares lisas imaturas que podem ter aspecto fusiforme ou epitelioide, adjacentes às lesões císticas e acompanhando o feixe peribroncovascular. As células apresentam positividade para o anticorpo alfa actina de músculo liso, e aquelas do tipo epitelioide são marcadas adicionalmente com o anticorpo monoclonal human melanoma black 45 na análise imuno-histoquímica.(8) Receptores hormonais para estrogênio e progesterona também foram evidenciados nas células de LAM, sendo inicialmente descritos por Brentani et al.(9)
As células fusiformes expressam matrix metalloproteinases (MMPs, metaloproteinases de matriz), componentes funcionais da matriz extracelular (MEC) responsáveis pelo remodelamento pulmonar e linfangiogênese, tendo sua atividade regulada por tissue inhibitors of MMP (TIMP, inibidores teciduais de MMP).(10) A degradação de fibras elásticas pode ser observada nas áreas com proliferação de células musculares lisas, por meio de microscopia eletrônica, em biópsias de pulmão de pacientes com LAM.(11) Na análise imuno-histoquímica, observou-se significante reatividade de MMP-2 e MMP-9 no tecido pulmonar de portadoras de LAM, quando comparado com o tecido de pulmões normais.(12) Matsui et al. evidenciaram intensa atividade de MMP-2 nas células de pacientes com LAM, bem como de membrane type 1 MMP, responsável por ativar a conversão da pró-enzima da MMP-2 na superfície da membrana celular.(13)
Concordante com a hiperreatividade tecidual das MMPs, descrita em pacientes com LAM, Odajima et al. demonstraram títulos séricos e plasmáticos significativamente elevados de MMP-9 nessas pacientes, quando comparados aos de controles, quantificados por zimografia.(14)
Tem crescido o interesse na relação entre a patogênese da destruição cística pulmonar e a atividade das MMPs na LAM, inclusive como potencial alvo terapêutico. De fato, um relato de caso descreveu o uso de doxiciclina, um conhecido inibidor de MMPs, em uma paciente com LAM em lista de transplante pulmonar. Após o tratamento por quatro meses, a paciente apresentou melhora no VEF1 e na troca gasosa, concomitante à redução expressiva dos níveis de MMPs dosados na urina.(15)
Até o momento, não existem ensaios clínicos prospectivos que tenham avaliado a eficácia e a segurança do uso de doxiciclina no bloqueio das MMPs em pacientes portadoras de LAM, o que nos incentivou a delinear este estudo.
Os objetivos do presente protocolo foram comparar as dosagens séricas e urinárias de MMP-2 e MMP-9 em pacientes com LAM e em mulheres saudáveis, avaliar a eficácia do uso de doxiciclina em inibir as MMPs e avaliar a segurança dessa medicação em pacientes com LAM.
MétodosDesenvolvemos um estudo clínico prospectivo no qual todas as pacientes em acompanhamento no Ambulatório de Doenças Intersticiais do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), no período entre novembro de 2006 e julho de 2009, com diagnóstico clínico-radiológico e/ou histopatológico de LAM, foram convidadas a participar do estudo. Como um grupo controle, foram avaliadas também 10 mulheres sem doenças respiratórias, sem nenhum condição médica e sem história prévia de tabagismo.
O termo de consentimento e o protocolo foram aprovados pelo Comitê de Ética do HC-FMUSP.
As pacientes com LAM submeteram-se à coleta de amostras de urina e de sangue para as dosagens de MMP-2 e MMP-9, sendo obtidas igualmente amostras de sangue e de urina dos controles.
A seguir, as pacientes receberam doxiciclina na dose de 100 mg/dia durante seis meses, coletando-se novas amostras séricas e urinárias ao final desse período.
Todas as amostras de sangue e de urina coletadas foram centrifugadas a 1.500 rpm durante 10 min e armazenadas a −80°C para posterior análise.
Os níveis séricos e urinários de MMP-2 e de MMP-9 foram mensurados através do método ELISA (RD System, Inc., Minneapolis, MN, EUA) em acordo com as instruções do fabricante. Placas com 96 poços (Costar; Corning Inc., Cambridge, MA, EUA) foram sensibilizadas com 100 µL de anticorpo monoclonal e incubadas por 18 h a 4°C. Posteriormente, as placas foram bloqueadas, para evitar ligações inespecíficas, com 300 µL de solução de bloqueio (BSA a 2%) e incubadas por 2 h a 37°C. Após o bloqueio, foram adicionados 100 µL das amostras por poço e 100 µL dos padrões diluídos previamente em PBS. As placas foram incubadas por 18 h a 4°C, sendo então adicionados 100 µL do anticorpo conjugado (biotinilado) e, após o período de incubação, foram adicionados 100 µL de streptavidin-conjugated horseradish peroxidase (1:250) por poço, e as placas foram incubadas por mais 30 min a 37°C.
A revelação foi realizada através da adição de 100 µL da solução de revelação (peróxido de hidrogênio + tetrametilbenzidina) por poço, e as placas foram incubadas de 5 a 30 min a 37°C, de acordo com cada proteína. A reação foi interrompida com 50 µL de ácido sulfúrico a 30% por poço, e as placas foram agitadas lentamente.
Os títulos de MMPs foram quantificados por comparação de densidade óptica em um leitor de ELISA (Power Wave; Bio-Tek Instruments Inc., Winooski, VT, EUA) utilizando um filtro de 450 nm. O limite de detecção para MMP-2 foi de 156,2 pg/mL, e aquele para MMP-9 foi de 15,6 pg/mL.
A análise estatística foi realizada utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences, versão 15.0 (SPSS. Inc., Chicago, IL, EUA). As variáveis paramétricas, definidas pela curva de normalidade em histograma, foram expressas em médias e desvios-padrão e comparadas pelo teste t de Student. As variáveis não paramétricas foram expressas através de medianas e intervalos interquartílicos (II) e comparadas utilizando o teste de Wilcoxon para as variáveis pareadas e o teste de Mann-Whitney para as variáveis não pareadas. A significância estatística foi assumida para valores de p < 0,05.
ResultadosTodas as 42 pacientes com diagnóstico de LAM acompanhadas em nosso serviço, no período do estudo, foram convidadas a participar do protocolo. Dessas, apenas 1 paciente foi excluída por ter sido submetida a transplante pulmonar.
No total, 41 pacientes iniciaram o tratamento com 100 mg/dia de doxiciclina. A média de idade das pacientes era de 41 ± 9 anos, enquanto a dos controles era 40 ± 4 anos. Nenhuma era fumante atual, sendo que 10 (24%) eram ex-tabagistas, e 27 (66%) haviam apresentado pneumotórax previamente. O diagnóstico de LAM foi estabelecido por estudo histopatológico em 37 (93%), sendo por biópsia pulmonar em 35 e por biópsia de outro sítio em 2. O diagnóstico clínico-radiológico, definido pela associação da presença de angiomiolipomas renais e cistos pulmonares, foi realizado em 4 pacientes.
Durante o seguimento, 7 pacientes não completaram o estudo: por piora dos sintomas respiratórios, em 1 (admitida em lista de transplante pulmonar após quatro semanas do início do protocolo); por sintomas relacionados aos efeitos colaterais associados à doxiciclina (colite aguda) após um mês de uso, em 1; por desistência do protocolo, em 1; e por não retornaram para a dosagem de MMP aos seis meses, em 4; essas pacientes continuaram utilizando doxiciclina, sem apresentar quaisquer efeitos adversos.
Ao final do estudo, 34 pacientes completaram seis meses de tratamento e realizaram as dosagens de MMP-2 e MMP-9 no sangue e na urina. As características clínico-funcionais desse grupo encontram-se nas Tabelas 1 e 2.
O grupo controle compreendeu 10 mulheres sem doenças respiratórias, sem outras comorbidades e sem história prévia de tabagismo, com média de idade de 40 ± 4 anos. Não houve diferença estatística em relação à idade entre os dois grupos (p = 0,29).
No grupo controle, a mediana dos valores de MMP-9 sérica e urinária foram, respectivamente, 89,6 ng/mL (II: 80 a 102) e 200 pg/mL (II: 89 a 263). Comparando esses valores aos das pacientes com LAM, houve diferenças significativas para ambos (p < 0.0001), conforme mostram as Figuras 1 e 2. Os níveis de MMP-2 no sangue e na urina estavam abaixo do limite de detecção nos controles.
Após o tratamento com doxiciclina por seis meses, foi observada uma redução global na mediana dos níveis séricos de MMP-9 nas pacientes com LAM - de 919 ng/mL (II: 742 a 1.268) para 871 ng/mL (II: 564 a 1.053; p = 0,05) - conforme mostrado na Figura 1. Em 20 dessas pacientes (59%), a variação proporcional da mediana, em relação ao nível basal, foi de −34% (II: −45% a −15%), enquanto, nas 14 pacientes restantes, houve estabilização ou incremento, com mediana de 8% (II: 3% a 35%).
Em relação aos níveis urinários de MMP-9, a mediana dos níveis basais foi de 11.558 pg/mL (II: 5.551 a 23.563) e a mediana após seis meses de tratamento com doxiciclina foi de 7.315 pg/mL (II: 2.393 a 16.683; p = 0,10), conforme mostrado na Figura 2. Houve decréscimo nos títulos em 21 pacientes (62%), apresentando uma variação da mediana, em relação ao valor basal, de −58% (II: −90% a −45%) e, nas 13 pacientes restantes, houve um incremento mediano de 65% (II: 23% a 79%).
Os títulos de MMP-2 sérica apresentaram uma mediana basal abaixo do nível de detecção (percentil 75: 833 pg/mL) e uma mediana após o tratamento com doxiciclina também abaixo do limite de detecção (percentil 75: 592 pg/mL; p = 0,04). Houve decréscimo nos títulos em 11 pacientes (32%), apresentando uma variação da mediana de −12% (II: −75% a −12%), e, nas 23 pacientes restantes, houve estabilização ou incremento, com mediana e II abaixo do limite de detecção. Todos os níveis de MMP-2 urinária estavam abaixo do limite de detecção.
Durante o uso da doxiciclina, com exceção de 1 paciente que apresentou colite aguda relacionada à doxiciclina, nenhuma outra paciente necessitou descontinuar o tratamento por efeitos colaterais.
Algumas pacientes apresentaram efeitos adversos, especialmente gastrointestinais. A epigastralgia foi o mais prevalente, estando presente em 47% dos casos, geralmente de leve intensidade e com o desaparecimento dos sintomas em duas semanas. Foram utilizados inibidores de bomba de prótons em metade delas. Foram observadas também náuseas, em 21%, e diarreia, em 21%, de leve intensidade e autolimitadas.
Duas pacientes queixaram-se de prurido e reação de fotossensibilidade; ambos os sintomas foram prontamente revertidos após o afastamento à exposição excessiva ao sol e o uso de protetor solar.
DiscussãoO presente estudo mostrou que os níveis séricos e urinários de MMP-9 encontrados no grupo de pacientes com LAM foram elevados quando comparados com aqueles do grupo controle. Os títulos de MMP-2 na urina não foram detectados em nenhum dos dois grupos e aqueles de MMP-2 sérica não foram evidenciados no grupo controle.
O achado de hiperreatividade das MMPs em doenças císticas pulmonares tem sido relatado na literatura. Em pacientes com histiocitose de células de Langerhans, Hayashi et al., usando microscopia confocal, demonstraram moderada a intensa atividade de MMP-2 nas áreas onde havia células de Langerhans concomitantes à lesão na membrana basal do epitélio alveolar.(16) Na doença de depósito das cadeias leves, evidenciou-se a degradação da MEC no parênquima pulmonar, associada à expressão de MMP-1, MMP-2, MMP-9 e MMP-14 nesses sítios, além da ausência de TIMP-1 e TIMP-2.(17)
O desbalanço entre MMPs e seus inibidores também tem sido implicado na patogênese de outras doenças pulmonares, como enfisema e asma.(18) Níveis urinários de MMP-2 têm sido associados à atividade e à resposta ao tratamento em uma variedade de neoplasias.(19)
Na LAM, foi evidenciada hiperreatividade das MMP-2 e MMP-9 no tecido pulmonar das pacientes, quando comparada com controles.(12) Quando dosada no sangue, a MMP-9 apresentou títulos mais elevados em pacientes com LAM do que nos títulos séricos de controles,(14) e nosso estudo corroborou essa evidência.
A doxiciclina, pertencente à família das tetraciclinas, é utilizada na prática clínica por seu efeito antimicrobiano. Quando administrada em baixas doses, essa age sobre o remodelamento da MEC, migração e proliferação celular in vitro.(20) Esse efeito é causado, em parte, pela inibição das MMPs, que pertencem a uma família de enzimas reguladas pela ativação de seus zimogênios, capazes de degradar os substratos da MEC, como gelatina, laminina, elastina e colágeno tipo I e IV.(21)
A doxiciclina vem sendo utilizada como bloqueador de MMPs em modelos experimentais, e foi evidenciada uma atividade antiangiogênese mediada por MMPs no cérebro de ratos após o uso dessa medicação.(22) Os derivados de tetraciclina reduzem a degradação tissular em aneurisma de aorta, assim como inibem a invasão local de células neoplásicas e sua metastatização.(23,24) Chang et al. demonstraram o efeito da doxiciclina sobre a adesão de células de LAM in vitro, bem como sobre MMP-2 e MMP-9, revelando uma redução na proliferação celular, mas à custa de doses muito elevadas de doxiciclina, sem um bloqueio significativo sobre a expressão de MMPs.(25) Esses achados, no entanto, são questionáveis, visto que, até o presente momento, não há modelos animais de pulmão de LAM para o estudo apropriado da fisiopatologia dessa doença.
O mecanismo de ação da doxiciclina ainda permanece obscuro; porém, especula-se que sua ação de inibição de MMPs seja pela indução da atividade do TIMP.(26) No entanto, não dosamos TIMP em nosso protocolo.
Após o uso de doxiciclina por seis meses, conseguimos evidenciar a
redução nos títulos séricos e urinários de MMP-9, assim como nos níveis séricos de MMP-2, nas pacientes com LAM. O bloqueio de MMP-9 sérica evidenciado em nosso estudo foi limítrofe (p = 0,05), sugerindo que o uso de doxiciclina por um tempo mais prolongado possa intensificar esse bloqueio. No caso da MMP-2, a redução evidenciada nos níveis séricos foi estatisticamente significante. Houve decréscimo nos títulos da MMP-9 urinária, sendo esse bloqueio igualmente limítrofe (p = 0,10).
Das 41 pacientes que foram recrutadas para o protocolo, 7 (17%) não realizaram a reavaliação no sexto mês, sendo que 4 não conseguiram retornar em tempo hábil por residirem em outro estado; entretanto, essas mantiveram o uso da medicação.
A doxiciclina mostrou-se uma droga segura e bem tolerada pelas pacientes, sendo o trato gastrintestinal o mais afetado naquelas pacientes sintomáticas. Os sintomas eram geralmente autolimitados, e nos casos que necessitaram o uso de bloqueadores da bomba de prótons, houve resolução satisfatória desses sintomas. Apenas 1 paciente necessitou ser afastada do protocolo devido a um quadro de colite aguda, que foi revertido logo após suspensão da doxiciclina.
Pela primeira vez, demonstra-se que pacientes portadoras de LAM apresentam altas taxas de MMPs no sangue e na urina e que o uso diário de doxiciclina em doses baixas, por seis meses, reduziu esses níveis, com redução significativa nos níveis de MMP-2 sérica e redução limítrofe naqueles de MMP-9 sérica e urinária. Foi observado que a doxiciclina é uma medicação segura, com efeitos colaterais leves, reversíveis e bem tolerados pelas pacientes.
A LAM é uma doença rara e ainda sem tratamento curativo. Vários estudos realizados nos últimos 20 anos trouxeram informações fundamentais no reconhecimento da patogênese dessa doença; no entanto, observa-se uma escassez de estudos prospectivos e randomizados no campo da terapêutica. Recentemente, em um ensaio clínico duplo-cego e randomizado, utilizou-se a rapamicina, um inibidor de mammalian target of rapamycin, demonstrando a estabilização da função pulmonar e a melhora na qualidade de vida em pacientes com LAM.(27)
A criação de registros nacionais e internacionais também é fundamental para possibilitar o acesso às pacientes para participação nesses estudos.(28)
Os resultados obtidos em nosso estudo estimulam a realização de um protocolo prospectivo e randomizado para avaliar o impacto funcional e a sobrevida de pacientes com LAM sob o uso de doxiciclina.
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Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
Endereço para correspondência: Suzana Pinheiro Pimenta. Rua Oscar Freire, 1929, apto. 401, Pinheiros, CEP 05409-011, São Paulo, SP, Brasil.
Tel. 55 11 3069-6000. E-mail: spp3847@yahoo.com.br
Apoio financeiro: Este estudo recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Recebido para publicação em 18/4/2011. Aprovado, após revisão, em 14/6/2011.
Sobre os autoresSuzana Pinheiro Pimenta
Médica Colaboradora. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
Bruno Guedes Baldi
Médico Assistente. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
Milena Marques Pagliarelli Acencio
Coordenadora. Laboratório de Pleura, Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
Ronaldo Adib Kairalla
Professor Assistente. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
Carlos Roberto Ribeiro Carvalho
Professor Associado Livre-Docente de Pneumologia. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.