Jornal de Pneumologia 1995-1998
Carlos Alberto de Castro Pereira1
Contente por ser o Editor? Saiba que você usará todo o seu escasso tempo livre, não pensará em outra coisa, irá perder alguns amigos e não ganhará nenhum. Estas foram as palavras de Lock(1) quando me preparava para assumir o Jornal de Pneumologia. Ao assumir, em 1995, o Jornal completava 20 anos de existência e passou a ser bimestral. Na ocasião, foi decisão da Diretoria da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) de que o Jornal deveria ter custo zero para a Sociedade. A mudança para a publicação bimestral foi possível pelo maior número de anúncios conseguidos. Posteriormente, o Jornal passou a se chamar Jornal Brasileiro de Pneumologia.
Ao me preparar para assumir a Editoria do Jornal, as providências foram: consultar artigos e textos sobre o assunto, comprar (e depois con-sultar sempre) o Manual of Style da American Medical Association(2) e ler livros e artigos sobre Pesquisa Clínica, Medicina Baseada em Evidên-cia e Bioestatística. Na época, não existiam editores associados e editores executivos, ou seja, recebido um artigo, se fazia uma avaliação inicial, decidindo-se in limine pela rejeição ou pelo envio para dois revisores. Esses eram (e continuam sendo) anônimos, o que resultava (e resulta), em muitos casos, em pareceres apressados, opiniões equivocadas e até agressivas. Sempre participei dessas revisões, muitas vezes estudando o assunto, contestando os pareceres de alguns revisores e até os ignorando. Imagino que atualmente os editores associados sejam colegas subespecializados que avaliam artigos de sua área de interesse. De qualquer modo, penso que é tempo para que as revisões se tornem abertas e não anônimas. Os críticos de arte, teatro e literatura têm a honestidade e a dignidade de assinar suas considerações em artigos im-pressos. Porque não os revisores na área de Medicina? Medo de perder a condição de oráculos? Um estudo randomizado(3) mostrou que as revisões assinadas têm maior qualidade, são mais corteses e mais completas em comparação às revisões não assinadas. Os revisores que as assinaram recomendaram mais frequentemente sua publicação. Os autores honestos não devem se ressentir de críticas bem fundamentadas e devem agradecer a melhora do artigo após sugestões corretas.
O JBP (e outros jornais brasileiros de medicina) sofrem de uma espécie de "esquizofrenia". Os melhores trabalhos são preferencialmente en-viados pelos autores brasileiros para revistas internacionais de maior impacto e visibilidade, incluindo muitos produzidos pelos Editores e membros do Conselho Editorial. O resultado é o atraso no crescimento do Jornal e sua rotulação como uma revista "de segunda linha". A solu-ção é complexa.
No período de 1995-1998, diretrizes e números especiais sobre espirometria, tuberculose, pneumonias, asma e doenças ocupacionais foram publicados, com impacto relevante. Seria de grande interesse rever quantos dos artigos originais publicados durante estes 40 anos tiveram impacto na prática clínica e sobrevivem até hoje como contribuições relevantes.
REFERÊNCIAS
1. Lock S. Survive as an Editor. In: Reece D, editor. How to do it: 3. London: BMJ Publishing; 1995. p. 108-12.
2. American Medical Association Manual of Style: A Guide for Authors and Editors. 8th ed. Baltimore: Williams and Wilkins; 1989.
3. Walsh E, Rooney M, Appleby L, Wilkinson G. Open peer review: a randomised controlled trial. Br J Psychiatry. 2000;176:47-51. http://dx.doi.org/10.1192/bjp.176.1.47