A prevalência de fumantes vem sofrendo progressiva e significativa queda, em ambos os sexos, nos últimos 20 anos, tanto em nível global(1) como no Brasil,(2) onde vem sendo mais acentuada. Globalmente a prevalência sofreu uma redu-ção, entre 1980 e 2012, de 41,2% para 31,1% nos homens e de 10,6% para 6,6% nas mulheres.(1) No Brasil, essa preva-lência, entre 1989 e 2013, passou de 43,3% para 18,3% nos homens e de 27,0% para 10,8% nas mulheres.(2,3)
Apesar do progresso, fruto de políticas públicas bem sucedidas,(2) uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com escolares das capitais do Brasil revelou uma prevalência de experimentação de cigar-ro de 19,6%,(4) que é reconhecidamente um fator de risco para a iniciação ao tabagismo. A indústria do tabaco, frente à progressiva queda da prevalência global e no Brasil, se volta não apenas para atrair novos mercados, em países que ainda não adotam políticas mais eficazes previstas na Convenção Quadro de Controle do Tabaco,(5) mas também busca formas de atrair jovens com novas e atraentes embalagens dos maços de cigarro, novas formas de publicidade, a intro-dução de aditivos com sabores que aumentam a eficiência da adição de cigarros e com menores de teores de nicotina, assim como, recentemente, o surgimento do cigarro eletrônico.(6,7)
Em um artigo publicado no presente número do JBP, Fernandes et al.(8) avaliaram a prevalência de rinite alérgica, asma e tabagismo em 3.235 alunos, com idade entre 13 e 14 anos, de escolas públicas de Belo Horizonte (capital do estado de Minas Gerais) e encontraram prevalências de 35,3%, 19,8% e 9,6% de sintomas de rinite, sintomas de asma e experi-mentação de cigarro, respectivamente. Acompanhando a progressão de queda da prevalência no país, também nesse caso a prevalência observada no estudo foi 50% inferior à observada em adolescentes em geral, naquela cidade, con-forme dados da pesquisa realizada pelo IBGE(4) em 2012, que foi de 20,7%. Os dados do estudo(8) diferem dos achados de estudos anteriores realizados no Brasil(9) e em outros países(10) em adultos e adolescentes,(11,12) que revelaram que a prevalência de fumantes entre asmáticos é semelhante ou superior à da população geral. Entretanto, apesar dos achados mais favoráveis, os dados do estudo de Fernandes et al.(8) evidenciam a necessidade de persistir no desenvolvimento de ações voltadas para adolescentes com asma, não apenas pelos malefícios gerais do tabagismo, como também pelas implicações do mesmo no controle, tratamento e evolução da doença, que tem no tabagismo um fator adverso.(10,13) Uma extensa e recente revisão apresentou evidências, embora ainda não conclusivas, que sugerem que o tabagismo é um fator de risco para a incidência e a exacerbação de asma em adolescentes.(13)
Os dados do estudo de Fernandes et al.,(8) embora tratem de um tema conhecido, trazem uma importante contribuição para a compreensão da realidade brasileira, evidenciando a diferença com relação a outros países, com implicações para os profissionais de saúde e para a elaboração e a avaliação de políticas públicas.
REFERÊNCIAS
1. Ng M, Freeman MK, Fleming TD, Robinson M, Dwyer-Lindgren L, Thomson B, et al. Smoking prevalence and cigarette consumption in 187 countries, 1980-2012. JAMA. 2014;311(2):183-92. http://dx.doi.org/10.1001/jama.2013.284692
2. Levy D, de Almeida LM, Szklo A. The Brazil SimSmoke policy simulation model: the effect of strong tobacco control policies on smoking prevalence and smoking-attributable deaths in a middle income nation. PLoS Med. 2012;9(11):e1001336. http://dx.doi.org/10.1371/journal.pmed.1001336
3. Szklo AS, de Souza MC, Szklo M, de Almeida LM. Smokers in Brazil: who are they? Tob Control. 2015. pii: tobaccocontrol-2015-052324.
4. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012. Brasília: IBGE; 2013.
5. WHO Framework Convention on Tobacco Control (FCTC) [homepage on the Internet]. Geneva: WHO; c2016 [cited 2016 Mar 28]. Framework Convention on Tobacco Control [about 3 screens]. Available from: http://www.who.int/fctc/text_download/en/index.html
6. Lovato C, Linn G, Stead LF, Best A. Impact of tobacco advertising and promotion on increasing adolescent smoking behaviours. Cochrane Database Syst Rev. 2003;(4):CD003439. http://dx.doi.org/10.1002/14651858.cd003439
7. Talhout R, van de Nobelen S, Kienhuis AS. An inventory of methods suitable to assess additive-induced characterising flavours of tobacco products. Drug Alcohol Depend. 2016;161:9-14. http://dx.doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.12.019
8. Fernandes SSC, Andrade CR, Caminhas AP, Camargos PA, Ibiapina CC. Prevalence of tobacco experimentation in adolescents with asthma and allergic rhinitis. J Bras Pneumol. 2016;42(2):84-87.
9. Stelmach R, Fernandes FL, Carvalho-Pinto RM, Athanazio RA, Rached SZ, Prado GF, et al. Comparison between objective measures of smoking and self-reported smoking status in patients with asthma or COPD: are our patients telling us the truth? J Bras Pneumol. 2015;41(2):124-32. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132015000004526
10. Lemiere C, Boulet LP. Cigarette smoking and asthma: a dangerous mix. Can Respiratory J. 2005;12(2):79-80. http://dx.doi.org/10.1155/2005/179032
11. Cui W, Zack MM, Zahran HS. Health-related quality of life and asthma among United States adolescents. J Pediatr. 2015;166(2):358-64. http://dx.doi.org/10.1016/j.jpeds.2014.10.005
12. Katebi R, Williams G, Bourke M, Harrison A, Verma A. What factors are associated with the prevalence of atopic symptoms amongst adolescents in Greater Manchester? Eur J Public Health. 2015. pii: ckv139. [Epub ahead of print]
13. National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion (US) Office on Smoking and Health. The health consequences of smoking-50 years of progress: A report of the Surgeon General. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Preven-tion US; 2014.