ABSTRACT
Objective: To determine the cut-off points for FEV1, FEV0.75, FEV0.5, and FEF25-75% bronchodilator responses in healthy preschool children and to generate reference values for FEV0.75. Methods: This was a cross-sectional community-based study involving children 3-5 years of age. Healthy preschool children were selected by a standardized questionnaire. Spirometry was performed before and after bronchodilator use. The cut-off point of the response was defined as the 95th percentile of the change in each parameter. Results: We recruited 266 children, 160 (60%) of whom were able to perform acceptable, reproducible expiratory maneuvers before and after bronchodilator use. The mean age and height were 57.78 ± 7.86 months and 106.56 ± 6.43 cm, respectively. The success rate for FEV0.5 was 35%, 68%, and 70% in the 3-, 4-, and 5-year-olds, respectively. The 95th percentile of the change in the percentage of the predicted value in response to bronchodilator use was 11.6%, 16.0%, 8.5%, and 35.5% for FEV1, FEV0.75, FEV0.5, and FEF25-75%, respectively. Conclusions: Our results provide cut-off points for bronchodilator responsiveness for FEV1, FEV0.75, FEV0.5, and FEF25-75% in healthy preschool children. In addition, we proposed gender-specific reference equations for FEV0.75. Our findings could improve the physiological assessment of respiratory function in preschool children.
Keywords:
Spirometry; Bronchodilator agents; Reference values; Child, preschool.
RESUMO
Objetivo: Determinar os pontos de corte de resposta ao broncodilatador do VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75% em crianças pré-escolares saudáveis e gerar valores de referência para o VEF0,75. Métodos: Foi realizado um estudo transversal de base comunitária em crianças de 3-5 anos de idade. Pré-escolares saudáveis foram selecionados por um questionário padronizado. Foi realizada espirometria antes e depois do uso de broncodilatador. Foram definidos os pontos de corte dessa resposta como o percentil 95 de variação em cada parâmetro. Resultados: Foram recrutadas 266 crianças, e 160 (60,0%) foram capazes de gerar manobras expiratórias aceitáveis e reprodutíveis antes e depois do uso de broncodilatador. As médias de idade e estatura dos participantes foram 57,78 ± 7,86 meses e 106,56 ± 6,43 cm, respectivamente. A taxa de sucesso para o VEF0,5 foi de 35%, 68% e 70%, respectivamente, nos participantes com 3, 4 e 5 anos de idade. O percentil 95 de variação percentual do valor previsto na resposta ao broncodilatador foram, respectivamente, de 11,6%, 16,0%, 8,5% e 35,5%, para VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75%. Conclusões: Nossos resultados definiram pontos de corte de resposta ao broncodilatador para o VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75 em crianças pré-escolares saudáveis. Adicionalmente, foram propostas equações de referência para o VEF0,75, separadas por sexo. Os achados deste estudo podem melhorar a avaliação fisiológica da função respiratória em pré-escolares.
Palavras-chave:
Espirometria; Broncodilatadores; Valores de referência; Pré-escolar.
INTRODUÇÃOA espirometria com avaliação da resposta ao broncodilatador faz parte da rotina de investigação de doenças respi-ratórias da criança e do adulto, mas é pouco utilizada em pré-escolares. Na criança, os poucos estudos que definiram pontos de corte de resposta ao broncodilatador o fizeram em relação ao VEF1 e definiram percentuais variáveis, de 9% a 14% em relação ao valor basal e de 9% a 10% em relação ao VEF1 previsto.(1-4) Ainda não há um posiciona-mento das sociedades norte-americana e europeia sobre quais pontos de corte seriam mais adequados para a crian-ça. Em pré-escolares, não há estudos suficientes para a padronização desses pontos de corte por essas socieda-des.(5,6)
Em relação aos pré-escolares, um fator limitante é a baixa proporção daqueles que conseguem expirar por um se-gundo ou mais (de 34% a 90% em diversos estudos). (7-12) Para esses, medidas do VEF em 0,5 do primeiro segundo da CVF (VEF0,5) ou do VEF em 0,75 do primeiro segundo da CVF (VEF0,75) podem substituir o VEF1. A American Thoracic Society e a European Respiratory Society (ATS/ERS) recomendam que, em espirometria de pré-escolares, o VEF0,5 e o VEF0,75 devem sempre ser reportados.(6) Vários estudos têm demonstrado que esses parâmetros são reprodutí-veis.(7,8,10,12-14) Diversas equações de valores de referência para VEF0,5 e VEF0,75 já foram publicadas em populações variadas.(13-17)
Em um estudo caso-controle(18) foram encontrados pontos de corte de resposta ao broncodilatador: 14% em rela-ção aos valores do VEF1 e VEF0,75 basal e 33% em relação ao FEF25-75%. Em outro estudo,(19) os autores encontraram os pontos de corte de 10%, 11% e 25%, respectivamente, para VEF1, VEF0,5 e FEF25-75% basal; porém, com baixa sensibili-dade para o diagnóstico de asma (12%, 30% e 41%, respectivamente) e especificidade de 84%, 90% e 80%, respec-tivamente.(9)
Como a espirometria é um teste de baixo custo e não invasivo e como vários estudos(7,8,10,12-14) já comprovaram que crianças pré-escolares conseguem realizar medidas de VEF0,5 e VEF0,75 aceitáveis e reprodutíveis, é necessário que sejam determinados pontos de corte de resposta ao broncodilatador adequados para essa faixa etária para tornar esse teste aplicável na prática clínica diária. Apenas dois estudos(18,19) fizeram essa avaliação exclusivamente em pré-escolares.
O presente estudo tem como objetivos determinar, em pré-escolares assintomáticos (saudáveis, do ponto de vista respiratório), pontos de corte de resposta ao broncodilatador dos parâmetros VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75%, utilizando-se o percentil 95 de resposta ao broncodilatador, e definir valores de referência para o VEF0,75 nessa população.
MÉTODOSRealizou-se um estudo de base comunitária, com coleta de dados entre fevereiro e dezembro de 2014 em pré-escolares de 3 a 5 anos de idade selecionados de 18 creches e escolas públicas da cidade do Recife (PE), Brasil.
Foi selecionada uma amostra de conveniência, priorizando-se as escolas e creches com maior número de crianças e situadas nas regiões Central, Norte e Oeste da cidade. Foi realizado o cálculo amostral para identificar o número de crianças necessário para se conseguir um aumento percentual médio do VEF0,75, após o uso de broncodilatador, de 4,5% e com um desvio-padrão de 5,1% - valor encontrado no estudo de Borrego et al.,(18) com 95% de confiança, admitindo-se um erro de estimação de 1%, conforme o cálculo amostral de Pardos et al.(20) Foi encontrado o número mínimo de 100 crianças.
Para a caracterização da amostra, utilizou-se o questionário para o diagnóstico de asma da ATS e Division of Lung Diseases, ATS-DLD-78-C, adaptado e previamente validado para uso no Brasil, em crianças de 4 meses a 13 anos de idade.(21) Esse questionário foi aplicado por dois dos autores do presente estudo.
Foram critérios de inclusão: crianças com 3-5 anos de idade, nascidas a termo, com peso de nascimento ≥ 2.500 g e assintomáticos respiratórios, ou seja, participantes sem sintomas de asma (dispneia, chiado, tosse recorrente ou dispneia aos esforços) e sem outras doenças respiratórias. Foram critérios de exclusão: presença de doença respira-tória ao nascer com uso de oxigênio por mais de 24 h; doença respiratória crônica (displasia broncopulmonar, fibro-se cística, bronquiolite obliterante); malformações torácicas e pulmonares; bronquiolite viral aguda nos últimos seis meses; rinofaringite aguda atual; doença cardíaca; e outras doenças graves (imunodeficiências, doenças neurológi-cas e síndromes genéticas). Esses critérios foram determinados pelo uso de um questionário aplicado até uma sema-na antes do teste. O teste era suspenso caso a criança apresentasse sinais de rinofaringite aguda na hora de sua realização.
Os testes foram realizados nas próprias escolas, no horário da manhã, pelo pesquisador principal. Foi aceito um volume retroextrapolado < 80 ml ou 12,5% da CVF, conforme recomendado para pré-escolares.(6) O objetivo foi obter duas curvas expiratórias máximas aceitáveis, com variação igual ou menor que 10% entre os dois maiores valores de CVF, VEF1 e VEF0,75 e variação igual ou menor que 5% entre os dois maiores valores de VEF0,5. Foram aceitas curvas com tempo expiratório forçado (TEF) mínimo de 0,5 s, tendo ou não final abrupto. O tempo máximo de realização dos testes foi de 25 min. Utilizaram-se telas de incentivo, e o teste foi precedido por um breve treinamento de até 5 min. Foram repetidas todas as espirometrias 15 min após a aplicação de 400 µg de salbutamol por inalador pressurizado, conforme recomendado pela ATS/ERS.(6) Foi utilizado um espaçador com máscara facial, em alumínio (inAl-air; RSMed, Belo Horizonte, Brasil). Os testes foram realizados com as crianças sentadas. Não foi utilizado clipe nasal pela comprovação de que, em crianças, não existe diferença significante entre utilizá-lo ou não.(22) Os testes foram realizados com espirômetro portátil validado pela ATS (Koko; Ferraris Respiratory, Louisville, CO, EUA). A calibração foi realizada no local do exame antes de cada série de testes, com a utilização de uma seringa de três litros, respeitando os limites de volume e fluxo aceitáveis.(23) Foram medidas a temperatura e a umidade da sala, com entrada desses dados no software. Para se conseguir manobras aceitáveis, as sessões de testes eram suspensas após uma média de oito tentativas, ou antes, caso a criança demonstrasse fadiga ou desinteresse em continuar.
Os parâmetros espirométricos avaliados foram CVF, VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75%. Os valores dos mesmos foram obtidos das duas melhores curvas fluxo-volume, aceitáveis e reprodutíveis.(6) Dentre essas melhores curvas, os critérios para definir os valores de FEF25-75% foram os seguintes: nas curvas com TEF máximo < 0,75 s, o FEF25-75% foi retirado da curva com maior VEF0,5 e a maior soma VEF0,5 + CVF; nas curvas com TEF máximo < 1 s, o FEF25-75% foi retirado da curva com maior VEF0,75 e a maior soma VEF0,75 + CVF; e nas curvas com TEF máximo ≥ 1 s, esse foi reti-rado da curva com maior VEF1 e a maior soma VEF1 + CVF. As variáveis utilizadas para estabelecer os pontos de corte de resposta ao broncodilatador foram a variação percentual em relação ao valor previsto, a variação percentu-al em relação ao valor basal e as variações absolutas de VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75%.
A análise estatística foi realizada através do programa IBM SPSS Statistics, versão 21 (IBM Corporation, Armonk, NY, EUA). As variáveis numéricas foram descritas em médias, medianas e percentis. As variáveis categóricas foram apresentadas em proporções. A reprodutibilidade das medidas espirométricas realizadas foi testada pelo coeficiente de correlação intraclasse (CCI). O peso, a estatura e o IMC foram apresentados em escore Z.(24)
O teste de normalidade utilizado foi o de Shapiro-Wilk. Realizou-se o teste t de Student para amostras pareadas para a comparação de médias basal e pós-broncodilatador dos parâmetros espirométricos.
As variações pós-broncodilatador foram calculadas utilizando-se as seguintes fórmulas:
(valor pós-broncodilatador − valor inicial) ×
100/valor inicial
(valor pós-broncodilatador − valor inicial) ×
100/valor previsto
Os valores previstos foram derivados de equação de referência realizada por este grupo de pesquisadores em um estudo prévio,(17) para a mesma população alvo. Por faltar, naquela equação(17), os valores de referência para o VEF0,75, os mesmos foram calculados no presente estudo, através de regressão linear.
Para se definir os pontos de corte de resposta ao broncodilatador para o VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75% foram calcu-lados os percentis 95 dessa resposta em relação aos valores basal, previsto e absoluto para cada um desses parâ-metros.
Foi calculado o coeficiente de correlação de Spearman para se avaliar a correlação entre os índices de resposta ao broncodilatador testados e as variáveis idade, estatura e VEFt iniciais (VEF1, VEF0,75 e VEF0,5).
O projeto do presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, com número de aprovação 2616-11. Foi obtido dos pais ou responsáveis dos pré-escolares o termo de consentimento livre e esclarecido, assim como foi assinado um termo de responsabilidade dos pesquisadores.
RESULTADOSDas 462 crianças elegíveis, 447 preencheram os questionários. Das 447, 41 (9%) faziam parte dos critérios de ex-clusão e 34 (8%) foram perdas: 26 por faltar à escola nos dias dos testes e 8 por recusa em realizá-lo. Dos 372 pré-escolares restantes, 266 (71%) foram classificados como assintomáticos respiratórios. Dos 266, 56 (21,0%) não conseguiram realizar o teste adequadamente e 50 (19,0%) não realizaram a fase pós-broncodilatador corretamente. A amostra final foi de 160 pré-escolares assintomáticos (60% dos 266 iniciais). O fluxograma de formação da amos-tra do presente estudo pode ser visualizado na Figura 1.
Os dados demográficos da amostra estão apresentados na Tabela 1. Das crianças que realizaram testes aceitáveis, com relação à idade, temos que 19 (12%) tinham 3 anos, 74 (46%) tinham 4 anos, e 67 (42%) tinham 5 anos. Em 99% dos testes foram obtidas curvas com volume retroextrapolado ≤ 5%, e, em 95% desses, a diferença entre os dois maiores valores de CVF, VEF1, VEF0,75 e VEF0,5 foi < 5%, demonstrando uma alta reprodutibilidade.
Foram calculados os CCIs das duas maiores medidas de cada uma das variáveis espirométricas testadas. Os valo-res médios (e respectivos IC95%) de CCI para CVF e VEF1 foram de, respectivamente, 0,994 (0,990-0,996) e 0,993 (0,989-0,996). Para VEF0,75, VEF0,5, e FEF25-75%, esses foram, respectivamente, de 0,993 (0,990-0,995), 0,992 (0,990-0,994) e 0,935 (0,913-0,951).
Das 266 crianças iniciais, por idade, foram considerados aceitáveis e reprodutíveis os valores de CVF, VEF1, VEF0,75 e VEF0,5 como segue: naqueles com 3 anos de idade, em 5%, 7%, 9% e 37% dos casos, respectivamente; naqueles com 4 anos, em 23%, 29%, 39% e 68%; e naqueles com 5 anos, em 23%, 26%, 44% e 70%.
Os testes foram considerados inaceitáveis em 63% das crianças com 3 anos, em 32% das com 4 anos e em 30% daquelas com 5 anos. A prova de resposta ao broncodilatador foi considerada inadequada em 19% das crianças com 3 anos, em 20% daquelas com 4 anos e em 20% daquelas com 5 anos, percentuais esses muito semelhantes entre si.
As médias basal e pós-broncodilatador de CVF, VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75% estão apresentadas na Tabela 2. Ob-servam-se diferenças significantes entre as médias pré- e pós-broncodilatador dos parâmetros testados (p < 0,005). Proporcionalmente, as médias e as medianas das variações pré- e pós-broncodilatador - de distribuição não normal - de CVF, VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75% podem ser visualizadas na Tabela 2.
Para o cálculo dos valores de referência do VEF0,75, foram derivadas equações de referência separadas por sexo, através de regressão linear. Para o sexo masculino, a equação e o limite inferior (LI) são os seguintes:
VEF0,75 = estatura × 0,013 + peso × 0,010
LI = valor previsto − 0,21(5º percentil do resíduo)
Para o sexo feminino, temos:
VEF0,75 = estatura × 0,008 + idade ×
0,008 + peso × 0,013
LI = valor previsto − 0,19.
A dispersão do VEF0,75 pode ser visualizada na Figura 2.
Os pontos de corte de resposta ao broncodilatador encontrados através do percentil 95 dessa resposta para VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75% estão detalhados na Tabela 3.
Na Tabela 4 estão apresentados os coeficientes de correlação de Spearman entre as três expressões de pontos de corte de resposta ao broncodilatador de VEF0,5 e VEF0,75 com a idade, estatura e VEFt (VEF0,5 e VEF0,75) inicial.
DISCUSSÃOO presente estudo é pioneiro na literatura em definir pontos de corte de resposta ao broncodilatador em pré-escolares, por espirometria, expressos pela variação percentual do valor previsto de VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75%. Medidas do VEF0,5 foram realizadas por 67% e 70% das crianças com 4 e 5 anos, respectivamente, enquanto medidas do VEF0,75 foram realizadas por 39% e 44% das crianças com 4 e 5 anos. Assim, medidas de VEF0,5 são mais úteis em pré-escolares por ser exequíveis por uma maior proporção de crianças. Em amostras de base comunitária, a espiro-metria em crianças com 3 anos de idade não é útil devido ao elevado percentual de inaceitabilidade.
A baixa proporção de crianças que conseguiu realizar medidas aceitáveis e reprodutíveis de CVF, VEF1, VEF0,75 e FEF25-75% pré- e pós-broncodilatador pode ser explicado pelo fato de serem essas crianças provenientes de uma amos-tra comunitária e, assim, mais inexperientes em realizá-las; quando selecionadas de amostras de ambulatórios de doenças respiratórias, essas crianças são, em geral, previamente avaliadas por seus médicos quanto à coordenação para realizar tais testes. Como, para a realização dos testes pré- e pós-broncodilatador, é requerido um maior esfor-ço das crianças, uma menor proporção de pré-escolares consegue realizá-los. Os elevados CCIs encontrados para os parâmetros espirométricos testados demonstram a baixa variabilidade e a alta reprodutibilidade das medidas reali-zadas, assim como a capacidade técnica do profissional que realizou os testes.
Não foram encontrados estudos na literatura que tenham avaliado a resposta ao broncodilatador apenas com pré-escolares saudáveis. Os únicos estudos encontrados envolviam crianças asmáticas. As variações percentuais médias pós-broncodilatador de CVF, VEF1 e VEF0,75 no presente estudo, respectivamente, de 2,3%, 4,5% e 5,6% foram seme-lhantes às encontradas em outro estudo(18) (2,5%, 4,7% e 4,5%, respectivamente, para a mesma sequência de pa-râmetros).(18) Quanto ao FEF25-75%, Borrego et al.(18) encontraram o percentual de 11,7%, enquanto este foi de 20,0% no presente estudo. Essa diferença pode ser explicada pelo tipo de amostra testada em ambos os estudos: nosso estudo foi de base comunitária, e o de Borrego et al.,(18) do tipo caso-controle. Além disso, a alta reprodutibilidade e, assim, a baixa variabilidade do FEF25-75% encontradas no presente estudo geram um maior poder para se detectar diferenças pré- e pós-broncodilatador. Comparando nossos dados aos de outro estudo(19) para as variações percen-tuais médias pós-broncodilatador de VEF1, VEF0,5 e FEF25-75%, encontramos, respectivamente, os valores de 4,5%, 6,8%, e 20,0%, enquanto naquele estudo,(19) esses valores foram de 8,9%, 2,9% e 8,1%, respectivamente. O tipo de amos-tra utilizada nos dois estudos (de base comunitária e do tipo caso-controle, respectivamente,(19) assim como a dose mais baixa de broncodilatador naquele estudo(19) (200 µg de salbutamol), podem ter contribuído para essas diver-gências.
Para o VEF1, o ponto de corte encontrado no presente estudo, de 13% em relação ao valor basal, foi semelhante ao encontrado em outro estudo,(18) de 14%; porém, diferiu do encontrado por Linares et al.,(19) de 10% (sensibilidade de 12% e especificidade de 84%). Essa baixa sensibilidade reflete que ou os grupos não diferiam significativamente em relação à resposta ao broncodilatador, ou a dose do broncodilatador aplicado (200 µg do salbutamol) não foi sufici-ente para um efeito broncodilatador. Como foi um estudo caso-controle com casos de asma persistente moderada a grave, é mais provável que a dose do salbutamol não tenha produzido uma eficiente broncodilatação. Quanto à variação percentual pós- broncodilatador em relação ao VEF1 previsto encontrada no presente estudo (11,6%), não foram encontrados outros estudos avaliando esse parâmetro em amostras exclusivamente de pré-escolares.
O ponto de corte encontrado nesta pesquisa para o VEF0,5 (20% em relação ao basal) difere do encontrado por ou-tros autores (11%; sensibilidade de 30% e especificidade de 90%).(19) Essa baixa sensibilidade indica que, possi-velmente, esse ponto de corte pode não ser o mais adequado. Os altos CCIs das medidas realizadas no presente estudo aumentam o poder dele em relação à confiabilidade das medidas realizadas. Outro aspecto a se considerar é que, utilizando-se uma amostra de base comunitária, os pontos de corte deverão ser mais elevados do que quando se compara doentes com não doentes, como foi o caso dos dois estudos já citados.(18,19) No que diz respeito ao ponto de corte para a variação percentual do VEF0,5 previsto (16%), a literatura não explora esse parâmetro, impossibilitan-do a comparabilidade.
O ponto de corte de resposta ao broncodilatador encontrado para o VEF0,75 basal (18%) foi mais elevado que o de outra pesquisa (14%).(18) O tipo de estudo utilizado (caso-controle)(18) e a forma diferente de cálculo do ponto de corte (média + 2 desvios-padrão pós-broncodilatador aplicado a participantes saudáveis) (18) podem ser o motivo das diferenças encontradas. Para a variação percentual do VEF0,75 previsto obtido (8,5%), não foi possível compará-lo com a literatura por falta de evidências.
Muito embora alguns estudos tenham incluído o FEF25-75% na análise da resposta ao broncodilatador,(1,19,20) o mesmo não é valorizado na avaliação dessa resposta devido a sua grande variabilidade.(6,20) O ponto de corte encontrado no presente estudo em relação ao valor basal do FEF25-75% (61%) foi diferente do encontrado por Borrego et al. (33%)(18) e por outros autores (25%; sensibilidade de 41% e especificidade de 80%).(1) Diferentemente do presente estudo, esses autores utilizaram tipos de estudo semelhantes entre si (caso-controle), podendo ser esse o motivo das divergências encontradas. O elevado CCI encontrado para o FEF25-75% no presente estudo demonstra boa reprodutibi-lidade do mesmo. Quanto ao ponto de corte encontrado para a variação percentual do FEF25-75% previsto, de 35,5%, não há estudos na literatura para sua comparação. A aplicabilidade desse parâmetro na avaliação da resposta ao broncodilatador em pré-escolares demandará novas pesquisas.
Alguns estudos têm mostrado que, na criança, a melhor forma de expressar a resposta ao broncodilatador é em relação aos valores percentuais do previsto, por não depender da idade, estatura e VEF1 inicial.(6,25) Entretanto, para pré-escolares, o presente estudo encontrou correlações entre o VEF0,5 inicial, tanto com a variação percentual pós-broncodilatador em relação ao valor basal quanto com a variação percentual pós-broncodilatador em relação ao valor previsto. Quanto ao VEF0,75, para esse grupo etário, foram encontradas correlações da idade com ambas as expressões de resposta ao broncodilatador, variação percentual do valor basal e variação percentual do valor pre-visto. Desse modo, em pré-escolares, não há predileção entre as duas formas de expressão de resposta ao broncodi-latador para ambos os parâmetros.
Um ponto forte do presente estudo foi o de ser derivado de uma amostra comunitária, o que permite uma maior capacidade de generalização do que estudos baseados em serviços secundários ou terciários. Outro aspecto que confere robustez foi a utilização de valores previstos originados de pré-escolares da mesma região, o que confere maior fidedignidade aos resultados encontrados. A elevada reprodutibilidade das medidas espirométricas realizadas demonstra que essas são confiáveis.
Em conclusão, este é o primeiro estudo, até onde sabemos, que definiu pontos de corte de resposta ao broncodila-tador em pré-escolares, expressos em percentuais dos valores previstos de VEF1, VEF0,75, VEF0,5 e FEF25-75%. Foram derivados valores de referência para o VEF0,75. O VEF0,5 é o parâmetro mais útil dentre os estudados, na medida em que é reprodutível e realizado por uma maior proporção dessas crianças. O VEF0,75 tem sua utilidade em crianças ≥ 4 anos. Em amostras de base comunitária, a espirometria em crianças com 3 anos de idade não é útil devido à elevada proporção de inaceitabilidade.
Recomendam-se, para maior praticidade clínica, os pontos de corte ≥ 12%, ≥ 8% e ≥ 16%, respectivamente, para VEF1, VEF0,75 e VEF0,5 em relação aos valores previstos, assim como pontos de corte ≥ 13%, ≥ 18% e ≥ 20%, respecti-vamente, para os valores basais de VEF1, VEF0,75 e VEF0,5. Recomendam-se para o FEF25-75% percentuais ≥ 35% em relação ao valor previsto e ≥ 61% em relação ao valor basal. Como a reprodutibilidade desse parâmetro foi eleva-da, é possível que o mesmo seja útil na avaliação da resposta ao broncodilatador. Novos estudos devem testar a utilidade desses pontos de corte em amostras de sintomáticos respiratórios provenientes de ambulatórios de doenças respiratórias.
AGRADECIMENTOSAgradecemos ao estatístico do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Professor José Figueiroa Na-tal, que muito contribuiu orientando a realização da análise estatística no presente estudo.
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