AO EDITOR:Gostaríamos de relatar um caso de oleotórax unilateral, que gerou grandes dificuldades diagnósticas e foi inicialmente interpretado como sendo uma massa pulmonar, provavelmente de origem neoplásica. Uma mulher de 84 anos de idade apresentava tosse seca havia quatro meses. A radiografia de tórax revelou uma massa no hemitórax direito (Figura 1A). Em virtude de suspeita de câncer de pulmão, a paciente foi submetida a TC, e as imagens revelaram uma massa hetero-gênea localizada posteriormente no hemitórax superior direito (Figura 1B). O líquido pleural viscoso aspirado era óleo mineral. Ao aprofundarmos a discussão do caso, a paciente lembrou-se vagamente de ter recebido tratamento para tu-berculose e injeção de óleo 60 anos atrás.
O oleotórax, a instilação intra ou extrapleural de óleo mineral ou vegetal no espaço pleural, foi amplamente usado desde as primeiras décadas do século XX até o fim da década de 1940. O oleotórax era uma forma de colapsoterapia usada para inibir a multiplicação e a disseminação de Mycobacterium tuberculosis pulmonar. Além de exercer um efeito de massa no pulmão adjacente, essas substâncias eram cáusticas e produziam pleurite obliterativa, o que justificava seu uso em empiemas tuberculosos. A quantidade de óleo usada variava amplamente (de 100 a 2.000 ml). Recomendava-se que a terapia durasse até 2 anos, com a remoção do óleo em seguida.(1-5) No entanto, perdas de seguimento eram fre-quentes em casos de pacientes assintomáticos, e o óleo não era removido, como aconteceu no caso aqui relatado.
A permanência do óleo pode resultar em diversas complicações, algumas das quais ocorrem décadas mais tarde. Den-tre as complicações em longo prazo do oleotórax estão fístula broncopleural, fístula pleurocutânea, obstrução das vias aéreas, empiema tuberculoso recorrente, abscesso na parede torácica e desconforto respiratório em virtude de uma massa em expansão. O oleotórax extrapleural resulta em menos complicações do que o pleural. Com o advento da qui-mioterapia antituberculose eficaz, a técnica foi abandonada na década de 1950.(2-5) O achado tomográfico mais caracte-rístico de oleotórax é uma coleção pleural encapsulada com três níveis: um nível superior com ar, um nível intermediário com conteúdo lipídico (−30 a −150 unidades Hounsfield) e um nível inferior com densidades positivas.(3-5)
Pode-se chegar ao diagnóstico de oleotórax a partir de imagens de TC, e o reconhecimento desse padrão é importante porque o paciente pode não saber os detalhes da intervenção antecedente realizada há muitos anos ou não se lembrar deles. Em suma, o oleotórax deve ser incluído no diagnóstico diferencial de massas torácicas, particularmente em pacien-tes idosos.
REFERÊNCIAS:1. López Riolobos C, Zamora García E, García Castillo E. Bilateral Oleothorax. Arch Bronconeumol. 2016;52(4):218. http://dx.doi.org/10.1016/j.arbres.2014.12.013
2. Hutton L. Oleothorax: expanding pleural lesion. AJR Am J Roentgenol. 1984;142(6):1107-10. http://dx.doi.org/10.2214/ajr.142.6.1107
3. Hochhegger B, Zanetti G, Marchiori E. Oleothorax simulating pulmonary neoplasm. Ann Thorac Surg. 2013;95(5):1807. http://dx.doi.org/10.1016/j.athoracsur.2012.09.076
4. Fahy RJ, Morales J, King M. Late reactivation of tuberculosis in an oleothorax. J Thorac Imaging. 2004;19(1):35-7. http://dx.doi.org/10.1097/00005382-200401000-00006
5. Freedman BJ, McCarthy DM, Feldman F, Feirt N. Fatty infiltration of osseous structures: a long-term complication of oleothorax--case report. Radiology. 1999;210(2):515-7. http://dx.doi.org/10.1148/radiology.210.2.r99fe42515