CONTEXTOUma pergunta de estudo clínico é definida como uma incerteza sobre um problema de saúde que aponta para a necessidade de compreensão e investigação deliberada.(1) Para os clínicos interessados em realizar pesquisa clínica de alta qualidade, é fundamental reconhecer que o processo de pesquisa começa com o desenvolvimento de uma pergunta sobre uma área de interesse específica relacionada à saúde. Isso é importante, pois uma vez definida a pergunta do estudo, a mesma impacta cada um dos demais componentes do processo de pesquisa, incluindo a geração da hipótese e a definição do delineamento apropriado do es-tudo, bem como a população e as variáveis do estudo e a abordagem estatística. No entanto, a formulação de uma boa pergunta de estudo não é tarefa fácil; exige um determinado conjunto de habilidades e a utilização de abordagens estruturadas.
DESENVOLVENDO E REDIGINDO UMA PERGUNTA DE ESTUDOO desenvolvimento de uma pergunta de estudo começa pela identificação de um problema clínico que seja importante para os pacientes, tendo relação com o manejo e, por fim, a melhora da saúde dos mesmos. O processo exige que os cientistas clínicos sejam curiosos e estejam atentos aos resultados da prática diária, e também que sejam ávidos leitores da literatura científica, participem de atividades científicas (por exemplo, journal clubs) e tenham acesso a um mentor científico ou colaboradores interessados em pesquisa clínica.
A própria pergunta de estudo deve atender a certos critérios, resumidos pelo acrônimo FINGER, do inglês Feasible, Interesting, Novel, Good (for your career), Ethical, and Relevant (Quadro 1). (1) Recomendamos o exame sistemático dos critérios FINGER e a discussão de todos os aspectos relevantes com um mentor ou colega antes da redação do protocolo de estudo e da realização de um trabalho que irá responder à pergunta de estu-do proposta.
Uma vez definida, a pergunta do estudo deve ser redigida de forma que a resposta possa ser expressa por um número, o que é típico de perguntas de estudo descritivas (por exemplo, uma prevalência relacionada à carga de doença, tal como "Qual é a prevalência da asma entre moradores de favela no Brasil?"), ou por sim ou não, o que é típico de estudos sobre associações en-tre exposições e desfechos (por exemplo, "Morar em favela no Brasil está associado a aumento da mortalidade entre adultos com asma?"). Além disso, se o pesquisador tem uma hipótese sobre a resposta à pergunta do estudo,(1) é importante que essa hipótese seja redigida utilizando-se uma abordagem abrangente, resumida pelo acrônimo PICOT, do inglês Population (popula-ção a ser incluída no estudo), Intervention (tratamento aplicado aos participantes no braço tratamento), Comparison (tratamen-to aplicado ao grupo controle), Outcome (variável de desfecho primário), e Time (tempo de seguimento para medir o desfe-cho).(2)
INVESTIR TEMPO E ESFORÇO PARA ELABORAR UMA PERGUNTA DE ESTUDO BEM REDIGIDA E DE ALTA QUALIDADE VALE A PENA! Como cientistas que treinam clínicos para se tornarem pesqui-sadores de sucesso, não podemos deixar de enfatizar a impor-tância de se investir o tempo com sabedoria para desenvolver uma pergunta de estudo de alta qualidade. Os pesquisadores que formulam e enunciam de forma clara uma pergunta de es-tudo sobre um problema importante relacionado à saúde estão em vantagem por terem maior probabilidade de convencer indi-víduos-chave a fornecer-lhes os recursos e apoio necessários pa-ra a realização do estudo, bem como de aumentar a qualidade do trabalho a ser publicado.(3)
REFERÊNCIAS1. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady DG, Newman TB. Designing clinical research. 4th ed. Philadelphia (PA): Lippincott Williams and Wilkins; 2013.
2. Haynes R. Forming research questions In: Haynes R, Sackett D, Guyatt GH, Tugwell P, editors. Clinical Epidemiology: How to do Clinical Practice Research. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; 2006. p. 3-14.
3. Rios LP, Ye C, Thabane L. Association between framing of the re-search question using the PICOT format and reporting quality of randomized controlled trials. BMC Med Res Methodol. 2010;10:11. http://dx.doi.org/10.1186/1471-2288-10-11