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Editorial

Momentum

Momentum

Rogério Souza1,2

O termo momento pode ser utilizado em vários sentidos distintos, desde uma conotação eminentemente temporal, representando um período determinado ou indeterminado de tempo, passando pela descrição de uma circunstância específica, até chegar ao sentido utilizado na física em que representa a força imposta a um sistema rotacional, gerando impulso e/ou mudança.

Na área médica, podemos reconhecer os mesmos usos e situações. O desenvolvimento de novas ferramentas diagnósticas e/ou intervenções terapêuticas mudam significativamente o panorama de reconhecimento e mesmo de avanço no conhecimento relacionado a diferentes situações clínicas.

O desenvolvimento de novas técnicas de angiotomografia de tórax aumentou significativamente o reconhecimento do tromboembolismo pulmonar agudo; até em demasia, segundo alguns autores.(1) Embora não se possa fazer associações causais, mas desde então o desenvolvimento de novas abordagens e estratégias terapêuticas.(2)

Ainda nas doenças vasculares, o desenvolvimento de medicações específicas para o tratamento da hipertensão arterial pulmonar teve impacto inequívoco no desenvolvimento do conhecimento associado a essa situação clínica tão peculiar, tanto para o reconhecimento de sua realidade em nosso meio e no exterior, quanto para estabelecer estratégias de tratamento e seus riscos. (3-6) A hipertensão arterial pulmonar evidencia que não é uma questão relacionada à prevalência da doença que determina isoladamente o momento de mudança.

De forma análoga, tomemos as doenças intersticiais pulmonares. Sem dúvida a tomografia de alta resolução permitiu o reconhecimento de padrões radiológicos distintos(7,8) que, juntamente com as análises clínicas e anatomopatológicas, resultaram no sistema atual de classificação. Mais recentemente, o desenvolvimento de alternativas terapêuticas trouxe novo momento de crescimento.(9) Caminha-se para outro ponto de mudança, no qual a interpretação dos exames de imagem deixa de ser meramente visual e tende a ter um aspecto matemático agregado altamente significativo (10). Qual o impacto disso na clínica diária e no manejo dos pacientes é algo ainda difícil de especular, dadas as limitações terapêuticas existentes, mas não é difícil imaginar que com o desenvolvimento de novos fármacos, a análise diagnóstica mais fina aproximará da medicina personalizada, a abordagem ao paciente com doença intersticial pulmonar. Esta edição do JBP traz um ensaio pictórico que discute de forma bastante didática, todas as certezas e inconsistências que envolvem o diagnóstico da pneumonia intersticial usual, a forma mais prevalente das doenças intersticiais pulmonares idiopáticas.(11)

Há, entretanto, exemplos de situações clínicas em que há muito não se identifica uma mudança de momento, seja pelo não desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas ou diagnósticas ou ainda pelo número pouco representativo de estudos conduzidos na área, mesmo epidemiológicos. Ao analisar o JBP, é evidente o papel crescente que a tuberculose tem em nosso meio e internacionalmente. Em contrapartida, há muito não publicávamos estudos relacionados às doenças pleurais. Neste número, publicamos um estudo muito interessante avaliando o melhor momento para realização de toracoscopia na abordagem do derrame parapneumônico em pediatria.(12) Além do claro aspecto científico da informação gerada pelo estudo, pode-se entender a oportunidade existente na área para estudos. O que justifica, portanto, a baixa representatividade das doenças pleurais, em nosso contexto cientifico? Claro que o desenvolvimento de ferramentas diagnósticas e de fármacos traz investimentos financeiros inquestionáveis associados, e estes certamente estimulam as linhas de pesquisa ainda mais. Mas se este for o único fator, não seria essa uma inversão perversa do papel dos centros de pesquisa e/ou universitários? Ou ainda uma demonstração de que o papel de agências independentes de fomento precisaria ser repensado? Ou, ulteriormente, o reflexo de que é necessária a organização de grupos interinstitucionais de pesquisa principalmente para áreas de menor representatividade, independente de quaisquer aspectos epidemiológicos da situação clínica estudada? Cabe aqui a reflexão não apenas dos pesquisadores, mas também dos órgãos de divulgação científica, principalmente aqueles ligados a sociedades científicas, como é o caso do JBP, para que se estimule diretamente áreas com menor visibilidade. Talvez seja necessária a demonstração direta de interesse pelas publicações científicas a fim de colaborar na mudança desta situação. Tal demonstração, todavia, não é sem riscos, uma vez que pode ter impacto direto nos índices bibliométricos, uma vez que quanto menor o número global de publicações em uma determinada área menor o potencial de citação da mesma. Daí a importância desta discussão, particularmente dentro das sociedades médicas.

Com vistas a estas reflexões, o momento atual de nosso jornal passa a contar com uma força ainda maior. Foi eleito para o cargo de Vice-Editor, o Dr. Bruno Baldi, professor colaborador da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ele exercerá essa função até o final de 2018, quando então assumirá as funções de Editor-Chefe. Sem dúvida um ganho muito significativo para o JBP e, particularmente, para a gestão atual do jornal. Aproveito esse momento de reflexão para desejar ao Bruno uma excelente jornada à frente do nosso jornal.

REFERÊNCIAS

1. Wiener RS, Schwartz LM, Woloshin S. When a test is too good: how CT pulmonary angiograms find pulmonary emboli that do not need to be found. BMJ, 2013. 347: p. f3368.
2. Fernandes CJ, Alves Junior JL, Gavilanes F, Prada LF, Morinaga LK, Souza R. New anticoagulants for the treatment of venous thromboembolism. J Bras Pneumol. 2016;42(2):146-54.
3. Alves JL Jr, Gavilanes F, Jardim C, Fernandes C, Morinaga LTK, Dias, B, et al. Pulmonary arterial hypertension in the southern hemisphere: results from a registry of incident Brazilian cases. Chest. 2015;147(2):495-501.
4. Hoette S, Jardim C, Souza, R. Diagnosis and treatment of pulmonary hypertension: an update. J Bras Pneumol. 2010; 36(6):795-811.
5. McLaughlin VV, Shah SJ, Souza R, Humbert M. Management of pulmonary arterial hypertension. J Am Coll Cardiol. 2015;65(18):1976-97.
6. Prada LF, Gavilanes F, Souza R. Incidence of spontaneous subdural hematoma in incident cases of pulmonary arterial hypertension: a registry of cases occurring over a five-year period. J Bras Pneumol. 2015;41(1):101-2.
7. Marchiori E, Zanetti G, Hochhegger B. Diffuse lung cysts. J Bras Pneumol. 2015;41(5):484.
8. Marchiori E, Zanetti G, Hochhegger B. Small interstitial nodules. J Bras Pneumol. 2015;41(3):250.
9. Baddini-Martinez J, Baldi BG, Costa CH, Jezler S, Lima MS, Rufino, R. Update on diagnosis and treatment of idiopathic pulmonary fibrosis. J Bras Pneumol. 2015;41(5):454-66.
10. Jun S, Park B, Seo JB, Lee S, Kim N. Development of a Computer-Aided Differential Diagnosis System to Distinguish Between Usual Interstitial Pneumonia and Non-specific Interstitial Pneumonia Using Texture- and Shape-Based Hierarchical Classifiers on HRCT Images. J Digit Imaging, 2017.
11. Torres PPTS, Rabahi MF, Moreira MAC, Meirelles GSP, Marchiori E. Usual interstitial pneumonia: typical, possible, and "inconsistent" patterns. J Bras Pneumol. 2017;43(5):393-8.
12. Pereira RR, Algim CG, Andrade CR, Ibiapina CC. Parapneumonic pleural effusion: early versus late thoracoscop. J Bras Pneumol. 2017;43(5):344-50.

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