Embora se saiba sobre as alterações sistêmicas causadas pela DPOC, chama a atenção as alterações na mecânica respiratória, a presença constante da dispneia e, portanto, a limitação ao exercício.(1,2) Porém, por muito tempo, a atenção terapêutica teve como foco principal os membros inferiores.(2,3)
Mesmo considerando que os membros inferiores tenham um impacto no exercício e em uma atividade tão elementar feito o caminhar, as atividades para membros superiores, principalmente as que promovem elevação acima dos ombros de maneira não sustentada, promovem aumento da demanda metabólica e maior atividade de músculos como o esternocleidomastoideo. (4,5) Isso culmina em assincronia toracoabdominal, assim como em assincronia do diafragma e de seus acessórios, prejudicando a ventilação.(4-7)
Quando se trata de pacientes com DPOC, especialmente em relação às atividades não sustentadas de membros superiores, essa assincronia tende a ficar ainda mais evidente, podendo os pacientes apresentar frequentemente hiperinsuflação dinâmica e dispneia durante o exercício.(6-8)
Embora, no caso de membros inferiores, as atividades possam ser mensuradas mais objetivamente utilizando-se acelerômetros posicionados nos quadris ou nas pernas, a informação sobre o quanto e como de fato os pacientes movimentam os membros superiores ainda é considerada uma informação limitada.(8,9)
Desde uma importante revisão sistemática com 41 estudos conduzida por Janaudis-Ferreira et al.,(10) já se recomendavam alguns testes para mensuração da endurance e da capacidade funcional em relação a exercícios não sustentados para membros superiores, como, por exemplo, o unsupported upper limb exercise test (teste de exercício não sustentado para membros superiores) e o teste de argolas de seis minutos (TA6).(11)
O TA6 foi descrito por Zhan et al.(11) e é um teste bastante simples, de baixo custo, que simula bem as atividades de vida diária, durante o qual o paciente deve manusear 20 argolas (10 para cada braço) transportando-as de pinos de madeira em posição inferior para pinos em posição superior e, ao término de todas as argolas, faz-se a movimentação reversa. O resultado desse teste é o número de argolas que são movidas em seis minutos.
Uma vez que já fora validado(11) e considerado reprodutível em sujeitos saudáveis,(12) tornou-se necessário e interessante, do ponto de vista da prática clínica e também da pesquisa, conhecer valores de referência para o TA6.
Indo nessa direção, Lima et al.,(13) num estudo muito elegante e bem delineado com 104 sujeitos saudáveis, realizaram o TA6 a fim de se estabelecer, de forma inédita, valores de referência para uma população saudável. O estudo apresenta boa distribuição de sujeitos por cada década de faixa etária (de 30 a maiores que 80 anos) e com adequada proporção entre homens e mulheres, o que faz com que a equação proposta tenha boa validade externa, podendo ser generalizada para qualquer sexo e faixa etária. Embora o estudo tenha levado em consideração o comprimento dos braços, circunferências de braço e de antebraço, assim como o nível de atividade física, somente a idade parece ter influenciado os resultados obtidos no TA6.
Fadiga e dispneia frequentemente são observadas na execução de atividades não sustentadas de membros superiores por pacientes com DPOC, limitando-os quanto às atividades de vida diária. Com o fato de o treinamento dos membros superiores ter sido tão bem incorporado por programas de reabilitação pulmonar,(14) conhecer valores que nos norteiem sobre a real funcionalidade e endurance dos mesmos se mostra muito importante e promissor.
REFERÊNCIAS
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2. McKeough ZJ, Alison JA, Bye PT. Arm exercise capacity and dyspnea ratings in subjects with chronic obstructive pulmonary disease. J Cardiopulm Rehabil. 2003;23(3):218-25. https://doi.org/10.1097/00008483-200305000-00010
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8. Robles P, Araujo T, Brooks D, Zabjek K, Janaudis-Ferreira T, Marzolini S, et al. Does limb partitioning and positioning affect acute cardiorespiratory responses during strength exercises in patients with COPD? Respirology. 2017;22(7):1336-1342. https://doi.org/10.1111/resp.13056
9. Frykholm E, Lima VP, Janaudis-Ferreira T, Nyberg A. Physiological responses to arm versus leg activity in patients with chronic obstructive pulmonary disease: a systematic review protocol. BMJ Open. 2018;8(2):e019942. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-019942
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13. Lima VP, Almeida FD, Janaudis-Ferreira T, Carmona B, Ribeiro-Samora GA, Velloso M. Reference values for the six-minute pegboard and ring test in healthy adults in Brazil. J Bras Pneumol. 2018;44(3):190-4.
McKeough ZJ, Velloso M, Lima VP, Alison JA. Upper limb exercise training for COPD. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD011434. https://doi.org/10.1002/14651858.CD011434.pub2