ABSTRACT
The authors report the case of a 28-year-old female patient with a giant cell tumor originating from the rib. The tumor, measuring
25 × 17 cm, occupied the entire hemithorax and caused atelectasis of the left lung. This tumor was a benign mesenchymal neoplasm, which
rarely affects the ribs. A thoracotomy involving en bloc resection of the chest wall and tumor was performed. Despite the large dimensions
of the tumor, complete resection was possible, and lung function was restored.
Keywords:
Neoplasms; Giant cells; Mesoderm; Thoracotomy; Medical records.
RESUMO
Os autores relatam o caso de uma paciente de 28 anos de idade portadora de tumor de células gigantes originário da costela. O tumor
de grandes dimensões (25 × 17 cm) ocupava todo o hemitórax e causava atelectasia do pulmão esquerdo. Tratava-se de uma neoplasia
mesenquimal benigna, a qual raramente acomete as costelas. Foi realizada toracotomia com ressecção em bloco da parede torácica e do
tumor. O objetivo deste artigo é enfatizar que, apesar da grande dimensão do tumor, ele pôde ser completamente ressecado, e o pulmão foi
reabilitado.
Palavras-chave:
Neoplasias; Células gigantes; Mesoderma; Toracotomia; Registros médicos.
IntroduçãoO tumor de células gigantes (TCG) é uma neoplasia de natureza mesenquimal caracterizada pela proliferação de células gigantes multinucleadas, que se assemelham aos osteoclastos, em meio a estroma de células mononucleares fusiformes.(1)
O TCG foi descrito pela primeira vez em 1818 por Sir Astley Cooper. Em 1860, Nelaton descreveu suas características clínicas e histológicas, salientando a sua agressividade local.(2)
O TCG corresponde a 8,6% de todos os tumores ósseos e, em geral, acomete um único osso, havendo poucos casos relatados de tumor multicêntrico. Sua localização mais comum é a epífise distal do fêmur (36%) e proximal da tíbia (17%), seguida pelo rádio distal (15%) e o úmero proximal (2%). Sua ocorrência no esqueleto axial é rara e, quando acontece, predomina no sacro (2%). A ocorrência em arcos costais é muito rara, não havendo séries relatadas, apenas casos isolados. O TCG é mais freqüente na terceira e quarta décadas de vida e apresenta pequena predominância em mulheres.(3)
Dor e aumento de volume local são as principais formas de apresentação. Alguns pacientes apresentam fratura patológica decorrente do enfraquecimento da cortical.
Na radiografia simples, o TCG apresenta uma lesão lítica, sem halo de esclerose ao redor, inicialmente excêntrica e respeitando os limites da cortical. Conforme a lesão cresce, pode acometer todo o diâmetro ósseo, causando ruptura da cortical óssea.(4)
O diagnóstico de certeza depende da análise histopatológica, e uma ressecção cirúrgica deve ser realizada quando o maior diâmetro do tumor é menor que ou igual a 4 cm. No caso de massas com diâmetro superior, uma biópsia prévia permite uma programação cirúrgica mais adequada.(5)
Apesar de ser uma lesão benigna, o TCG pode apresentar recidiva local em 20 a 40% dos casos. Pode apresentar metástase pulmonar em 2% dos casos sem que o tumor original tenha desenvolvido características histológicas malignas. As metástases pulmonares apresentam características histológicas semelhantes às do tumor primário e comportamento benigno. O TCG maligno representa menos de 5% dos casos. Seu diagnóstico depende da presença de áreas típicas do TCG benigno em meio à neoplasia maligna.
O tratamento é a ressecção segmentar da lesão com margem de segurança oncológica no osso e nas partes moles.(6)
Relato de casoPaciente do sexo feminino, 28 anos de idade, referia história de dor torácica há 5 meses e evolução com tosse, inicialmente seca, e, a seguir, com expectoração mucóide. A radiografia de tórax mostrou opacificação de todo o hemitórax. A paciente apresentava emagrecimento de 2 kg em 5 meses e havia sido submetida à hemotransfusão há 6 meses. Tinha história familiar de câncer (antecedentes maternos e paternos) e apresentava murmúrio vesicular abolido no hemitórax esquerdo e performance status de Karnofsky de 90. A sequência evolutiva dos exames pré-operatórios realizados na tentativa de elucidação do diagnóstico é relatada a seguir.
A tomografia computadorizada de tórax revelou massa heterogênea associada a derrame pleural esquerdo.
A punção aspirativa com agulha fina e também a biópsia tecidual por agulha cortante mostraram a presença de raras células atípicas ao lado de macrófagos e alguns elementos inflamatórios: diagnóstico histopatológico de lesão fibrohistiocítica de baixo grau.
A cintilografia óssea revelou áreas de hiperfixação não relacionadas a implantes secundários.
O ecocardiograma mostrou a presença de uma massa deslocando o coração para a direita, e o Doppler revelou insuficiência mitral mínima.
A ressonância magnética do tórax revelou uma formação expansiva mista e heterogênea e limites bem definidos. Uma massa multiloculada, com áreas com sinal hiperintenso em T1 correspondendo a focos de hemorragia, ocupava todo o hemitórax esquerdo, comprimindo e desviando as estruturas mediastinais e o diafragma. Havia um pequeno componente de lesão extratorácica aproximadamente ao nível da linha axilar (Figura 1).
Os exames de sangue, incluindo a dosagem do cálcio iônico, foram normais, assim como a gasometria arterial.
A biópsia a céu aberto por meio de minitoracotomia lateral revelou padrão histopatológico de TCG.
A paciente foi tratada inicialmente com radioterapia durante 5 semanas (dose total de 4.600 cGy em 23 frações). A resposta ao tratamento foi considerada insuficiente.
Decidiu-se por ressecção cirúrgica após a terceira semana de término da radioterapia.
A prova de função respiratória não comprometia o procedimento proposto. A paciente foi operada sob anestesia geral inalatória e usou-se cateter peridural.
A via de acesso foi obtida por meio de toracotomia. Procedeu-se à ressecção de segmento anterior do quarto e quinto arcos costais em bloco com o tumor intratorácico, à dissecção extrapleural liberando o tumor do pulmão, do mediastino e da parede torácica e à reconstrução parietal com tela de polipropileno.
A peça cirúrgica era representada por uma massa tumoral que pesava 2.180 g. O tumor estava envolto por uma cápsula firme, elástica e esbranquiçada, tinha superfície sólida, multicística e amarelada e tinha conteúdo viscoso e acastanhado, com áreas de tecido ósseo (Figura 2). O laudo histopatológico final foi de TCG, medindo 25 × 17 cm, infiltrando o arco costal e os tecidos moles adjacentes. Associava-se a extenso material necrótico e hemorrágico. Não havia invasão angiolinfática. A lesão foi completamente excisada, com margens cirúrgicas livres de neoplasia.
A paciente apresentou evolução pós-operatória satisfatória, com discreto edema pulmonar de reexpansão, o qual regrediu espontaneamente, e teve alta hospitalar no oitavo dia pós-operatório.
O controle ambulatorial mostrou ótimo estado geral e ganho ponderal. Houve recuperação da expansão pulmonar esquerda mediante fisioterapia respiratória.
A paciente permanece assintomática 24 meses após a cirurgia.
DiscussãoO TCG é considerado raro no esqueleto axial, e são poucos os casos relatados da neoplasia incidindo sobre os arcos costais. Até 2003, apenas 13 casos haviam sido relatados em todo o Japão.(7) O caso descrito neste relato é o único em 20 anos de observação do Instituto Nacional de Câncer/Rio de Janeiro, instituição de referência para tumores nesse estado.
O TCG apresenta características clínicas, radiológicas e histopatológicas semelhantes às de diversas lesões tumorais e pseudotumorais, como, por exemplo, o tumor marrom presente nos casos de hiperparatireoidismo.(8) Outras lesões, como o cisto ósseo aneurismático, o osteossarcoma telangectásico e o condroblastoma, entram nas considerações do diagnóstico diferencial.(9) As células do TCG são semelhantes aos osteoclastos, são gigantes e multinucleadas, e o estroma é de células mononucleares fusiformes.
Quanto ao rastreamento do esqueleto pela cintilografia óssea, o TCG apresenta hipercaptação local devido ao aumento da atividade osteoblástica reacional, e o exame deve ser realizado em busca de outras lesões ósseas. No caso relatado os focos de hipercaptação fora da área torácica foram explorados e acompanhados por radiografias simples e exame físico, e não houve alteração de suas características clínicas ou aumento de tamanho ao longo de 24 meses. A doença tumoral locorregional é melhor avaliada por tomografia computadorizada e ressonância magnética, as quais podem colaborar no diagnóstico e na percepção da extensão da lesão e também na detecção de recidiva local.
A punção aspirativa com agulha fina não é um método capaz de definir o diagnóstico histopatológico de tumores da parede torácica.(10) A biópsia tecidual se fez necessária e foi realizada por agulha cortante.(11) A biópsia a céu aberto é o método mais adequado para o diagnóstico definitivo.(12,13) A indefinição do laudo histopatológico, descrito como lesão fibrohistiocítica de baixo grau, conduziu a esse procedimento.
A radioterapia foi indicada porque inicialmente o tumor foi considerado irressecável. A definição pelo tratamento cirúrgico ocorreu após avaliação pormenorizada da ressonância magnética e também mediante laudo da anatomia patológica mostrando TCG benigno. A biópsia a céu aberto permitiu o diagnóstico de certeza da neoplasia, cujo tratamento eletivo é a ressecção cirúrgica radical com margens livres.(14)
Durante a cirurgia é fundamental manter as margens oncológicas de distância da lesão tumoral e ressecar o tumor em bloco com a parede torácica, incluindo os arcos costais envolvidos. O exame anatomopatológico da peça comprovou os limites livres.
Na evolução pós-operatória o evento marcante foi o edema de reexpansão unilateral ocorrido no pulmão subjacente ao tumor. A recuperação espontânea desse edema foi atribuída à faixa etária favorável da paciente em questão (28 anos). A restrição hídrica prescrita, esquema habitual para pacientes que permanecem longo tempo em colapso pulmonar, contribuiu para a rápida recuperação.
O controle dos pacientes operados deve incluir o acompanhamento por meio de diagnóstico de imagem do local operado e também dos pulmões, como foi feito neste caso aqui apresentado, apesar de se tratar de doença benigna, as metástases podem estar presentes.
Referências1. Locher GW, Kaiser G. Giant-cell tumors and aneurysmal bone cysts of ribs in childhood. J Pediatr Surg. 1975;10(1):103-8.
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4. Hanna RM, Kyriakos M, Quinn SF. Case report 757: Giant cell tumor of rib. Skeletal Radiol. 1992;21(7):482-8.
5. Ascoli V, Facciolo F, Muda AO, Martelli M, Nardi F. Chondroblastoma of the rib presenting as an intrathoracic mass. Report of a case with fine needle aspiration biopsy, immunocytochemistry and electron microscopy. Acta Cytol. 1992;36(3):423-9.
6. Nakayama K, Gu K, Yamauchi M, Okada K, Sasaki T, Yamada K. [Successful operation for two cases of an aneurysmal bone cyst of the rib] [Article in Japanese]. Nippon Geka Gakkai Zasshi. 1993;94(6):648-51.
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9. Tokitsu K, Tachibana S, Kawakami M, Orino T, Nakao K, Morita T, et al. [A case of aneurysmal bone cyst arising from the left 4th rib] [Article in Japanese]. Kyobu Geka. 1998;51(2):158-60.
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11. Volmar KE, Sporn TA, Toloza EM, Martinez S, Dodd LG, Xie HB. Giant cell tumor of rib masquerading as thymoma: a diagnostic pitfall in needle core biopsy of the mediastinum. Arch Pathol Lab Med. 2004;128(4):452-5.
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14. Briccoli A, Malaguti C, Iannetti C, Rocca M, Bertoni F. Giant cell tumor of the rib. Skeletal Radiol. 2003;32(2):107-10.
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Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer/Instituto Nacional de Câncer/Ministério da Saúde - HC/INCA/MS - Rio de Janeiro (RJ) Brasil.
1. Cirurgião Torácico do Hospital do Câncer/Instituto Nacional de Câncer - HC/INCA - Rio de Janeiro (RJ) Brasil.
2. Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer/Instituto Nacional de Câncer - HC/INCA - Rio de Janeiro (RJ) Brasil.
3. Pneumologista do Serviço de Cirurgia Torácica. Hospital do Câncer/Instituto Nacional de Câncer - HC/INCA - Rio de Janeiro (RJ) Brasil.
Endereço para correspondência: Samuel Zuínglio de Biasi Cordeiro. Estrada Francisco da Cruz Nunes, 11784, Bloco 3, apto 401, Itaipú, CEP 24340-000, Niterói, RJ, Brasil.
Tel 55 21 2506-6185. E-mail: samuelcirtorax@uol.com.br
Recebido para publicação em 28/11/2006. Aprovado, após revisão, em 8/5/2007.