Inicialmente, gostaríamos de agradecer aos comentários, em forma de correspondência, sobre nosso artigo intitulado "Associação entre função pulmonar, força muscular respiratória e capacidade funcional de exercício em indivíduos obesos com síndrome da apneia obstrutiva do sono" (SAOS.(1) No artigo, nós mostramos que nossa amostra, composta por indivíduos obesos com SAOS não tratada, apresentou redução da função pulmonar, da força muscular inspiratória e da capacidade física. Além disso, observamos que, naqueles pacientes, o declínio da função pulmonar, mas não da força muscular respiratória, estava associado à redução da distância percorrida na realização do teste shuttle. No entanto, nenhuma correlação da função pulmonar e da força muscular respiratória foi encontrada com o desempenho no teste de caminhada de seis minutos (TC6).
Sobre o comentário a respeito do desenho do estudo, que é do tipo transversal observacional, e, dessa forma, não é o mais adequado a fim de estabelecer um fator causal da redução de força e de função pulmonar encontrada nos nossos pacientes, concordamos com a colocação dos autores. Inclusive, esse é um fator colocado por nós como sendo uma das limitações do nosso estudo. Sugerimos que, para uma melhor definição do fator causal, estudos com maior rigor metodológico sejam realizados, como um ensaio clínico randomizado, já que o nosso estudo avaliou apenas um grupo de indivíduos obesos e com SAOS, não havendo grupos para uma posterior comparação. Com relação à presença de comorbidades associadas, esse é um achado comum nos pacientes com SAOS. Os episódios intercorrentes de hipóxia e reoxigenação presentes na SAOS podem promover estresse oxidativo associado à liberação de marcadores inflamatórios, colaborando para o aparecimento dessas comorbidades e de consequências para a musculatura periférica e cardiorrespiratória, o que pode afetar diretamente a tolerância ao esforço. Sobre as considerações dos autores quanto à utilização do índice de massa corpórea como forma de caracterização da obesidade, concordamos que esse não é o método mais fidedigno para a classificação da obesidade, por não levar em consideração a composição corporal. Apesar disso, segundo um editorial no BMJ de 2018,(2) o índice de massa corpórea continua a ser a medida mais comumente utilizada e largamente aceita para mensurar obesidade em adultos e crianças, além de apresentar uma forte correlação com as medidas consideradas padrão ouro para a mensuração da gordura corporal.
Por fim, quanto ao comentário sobre a ausência de correlação da função pulmonar com a distância percorrida no TC6, gostaríamos de destacar que a correlação entre as duas variáveis não está associada ao fato de o TC6 ser validado e reprodutível para obesos, como foi destacado nos comentários da correspondência. O que a ausência de correlação nos afirma, do ponto de vista estatístico, é que a alteração no valor de uma variável considerada independente (no caso, a função pulmonar) não provocou alterações no valor da outra variável considerada dependente (no caso, a distância percorrida no TC6). Resultados similares também foram encontrados por Ferreira et al.,(3) ao analisarem crianças e adolescentes obesos, que não observaram correlações entre a função pulmonar e o desempenho no TC6.
Concluindo, gostaríamos de agradecer mais uma vez a continuidade de discussão sobre os aspectos metodológicos e resultados de nosso trabalho,(1) possibilitando ampliar o debate abordando a SAOS, um tema tão atual e importante dentro da área da pneumologia e da medicina do sono.
REFERÊNCIAS
1. Carvalho TMDCS, Soares AF, Climaco DCS, Secundo IV, Lima AMJ. Correlation of lung function and respiratory muscle strength with functional exercise capacity in obese individuals with obstructive sleep apnea syndrome. J Bras Pneumol. 2018;44(4):279-284. https://doi.org/10.1590/s1806-37562017000000031
2. Is BMI the best measure of obesity? BMJ. 2018;361:k2293. https://doi.org/10.1136/bmj.k1274
3. Ferreira MS, Mendes RT, de Lima Marson FA, Zambon MP, Paschoal IA, Toro AA, et al. The relationship between physical functional capacity and lung function in obese children and adolescents. BMC Pulm Med. 2014;14:199. https://doi.org/10.1186/1471-2466-14-199