CENÁRIO PRÁTICO Em um ensaio clínico controlado randomizado hipotético, os pesquisadores compararam o efeito do broncodilatador A vs. broncodilatador B sobre o VEF1 em pacientes com DPOC. Embora os resultados tenham mostrado que o broncodilatador A foi superior ao B na melhora do VEF1 e que essa diferença foi estatisticamente significante, essa mudança no VEF1 resultou em menos sintomas ou aumentou a autopercepção dos participantes sobre sua capacidade de realizar atividades cotidianas?
Para responder a essa e outras questões relacionadas a desfechos clínicos, é crucial compreender o conceito de diferença mínima clinicamente importante (DMCI).
DEFINIÇÃO DE DMCI Um dos muitos desafios de traduzir evidências científicas para a prática clínica é a interpretação dos dados à luz do significado clínico. Comumente encontramos relatos de resultados estatísticos, como valores de p, intervalos de confiança e tamanhos de efeito. A DMCI comunica resultados que têm significado para o paciente. Dependendo do desfecho que estamos medindo, essa mudança pode ser autorrelatada ou medida objetivamente.
A DMCI refere-se à menor mudança em um desfecho que representa uma mudança significativa para o paciente.
(1,2) Existem diferentes métodos para determinação da DMCI, mas os pontos principais são que a mudança deve ser maior do que o erro de medição do instrumento que estamos utilizando para avaliar o desfecho e deve ser grande o suficiente para que os pacientes percebam a mudança clínica.
DMCI EM CONTEXTOS DE PESQUISA E CONTEXTOS CLÍNICOS Quando da elaboração de estudos comparando os efeitos de intervenções, os pesquisadores devem considerar a inclusão dos limiares da DMCI juntamente com a significância estatística.
(2) A DMCI para um determinado teste pode ser definida utilizando consenso de especialistas, utilizando avaliações do paciente que ancoram a mudança em uma percepção subjetiva de mudança ou utilizando métodos estatísticos, os quais geralmente precisam de validação. Curiosamente, o mesmo instrumento pode ter diferentes limiares de DMCI de acordo com populações de estudo específicas. Por exemplo, o teste de caminhada de seis minutos possui DMCI diferentes para pacientes com DPOC, pacientes com insuficiência cardíaca e adultos aparentemente saudáveis.
No ensaio hipotético de nosso cenário prático, os pesquisadores constataram que a variação do VEF1 foi de 241 ± 38 mL no grupo broncodilatador A e de 91 ± 14 mL no grupo broncodilatador B. Considerando que a DMCI para o VEF1 em pacientes com DPOC é de 100 mL, podemos concluir que o broncodilatador A é estatisticamente superior ao broncodilatador B e que a mudança no VEF1 tem significado clínico.
CONCLUSÃO Usar desfechos centrados no paciente e alinhar os efeitos clinicamente relevantes com significância estatística são etapas importantes no processo de tradução do conhecimento clínico-científico para a prática baseada em evidências. A compreensão do conceito de DMCI é crucial para a análise e interpretação dos resultados de intervenções clínicas. Tanto em contextos de pesquisa quanto em contextos clínicos, devemos considerar as DMCI na análise e interpretação dos resultados de desfechos clínicos (Figura 1).
REFERÊNCIAS
- Maltenfort MG. The Minimally Important Clinical Difference. Clin Spine Surg. 2016;29(9):383. https://doi.org/10.1097/BSD.0000000000000446
- Embry TW, Piccirillo JF. Minimal Clinically Important Difference Reporting in Randomized Clinical Trials. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2020;146(9):862-863. https://doi.org/10.1001/jamaoto.2020.1586