CENÁRIO PRÁTICO Um ministério da saúde, preocupado com o aumento da prevalência do tabagismo na população adulta, examinou uma amostra dessa população para identificar obstáculos à cessação do tabagismo. Os resultados mostraram que as intervenções atuais para a cessação do tabagismo, baseadas na consulta a um pneumologista, não eram viáveis em virtude de grandes obstáculos como dificuldade em agendar uma consulta e comparecer às consultas de acompanhamento, que resultavam em perda da motivação. Esses resultados foram usados para a elaboração de uma intervenção de base populacional para a cessação do tabagismo por meio de um aplicativo para smartphone para avaliar sua viabilidade e eficácia.
PESQUISA OU CIÊNCIA DE IMPLEMENTAÇÃO A Pesquisa ou Ciência de Implementação (PI) é uma abordagem científica específica que avalia a eficácia da incorporação de intervenções e políticas baseadas em evidências na rotina do sistema de saúde. A PI foca nos facilitadores da implementação de intervenções baseadas em evidências em sistemas de saúde públicos e privados, bem como nos obstáculos a sua implementação, além de promover a aplicação, o uso e a sustentabilidade dessas intervenções em grande escala (Figura 1).
A PI avalia diferentes tipos de intervenções, tais como novas tecnologias e dispositivos médicos, aplicação de protocolos de tratamento, programas de prestação de serviços e intervenções comportamentais. São usados na PI métodos de pesquisa das ciências sociais, além de métodos para determinar o custo de estratégias de implementação em diferentes níveis do sistema de saúde.(1)
COMO A PI PODE MELHORAR A SAÚDE PÚBLICA? A PI aborda as prioridades dos formuladores de políticas de saúde e as necessidades daqueles que tomam as decisões a respeito da saúde no mundo real. Embora esforços bem-sucedidos tenham sido feitos para preencher a lacuna de pesquisa sobre mudanças em políticas de saúde, os processos de tomada de decisões em saúde são altamente complexos e envolvem um grande número de partes interessadas. A pesquisa voltada às políticas de saúde, como é o caso da PI, apoia o uso de achados de pesquisa no planejamento e implementação de políticas de saúde pelos formuladores de políticas.(2) Assim, o principal papel da PI é melhorar a eficácia dos sistemas de saúde e da assistência à saúde.
CONSIDERAÇÕES AO REALIZAR PI População: O ideal é que a PI seja realizada na população que será afetada pela intervenção de saúde. Os critérios de inclusão devem ser amplos e resultar em uma população de estudo verdadeiramente representativa da população-alvo, ao passo que os critérios de exclusão devem ser mínimos. Em nosso exemplo, a população consistiu em fumantes adultos de todas as regiões do país e com acesso a um smartphone.
Intervenção/Exposição: As intervenções que se enquadram na PI são amplas. Elas podem ser complexas, e o grupo de pesquisa deve tentar envolver as diversas partes interessadas. Em nosso exemplo, a intervenção foi o uso de um aplicativo para promover intervenções comportamentais para a cessação do tabagismo. As partes interessadas incluíam o ministério da saúde, a população em geral e profissionais de saúde que trabalhavam em programas de cessação do tabagismo.
Grupo de comparação: A abordagem analítica da PI difere da abordagem usada na pesquisa clínica. Em geral, a intervenção já se mostrou eficaz no ambiente controlado de um ensaio clínico. Na PI, o objetivo é testar a aplicação de uma intervenção no mundo real e se ela continua a ser eficaz ao longo do tempo. Portanto, pode não ser necessário um grupo de comparação, ou podem ser usados controles históricos.
Desfecho: Os desfechos geralmente se concentram na viabilidade, aceitação, adesão e eficácia em contextos do mundo real nos quais a intervenção será implantada. Em nosso exemplo, os desfechos incluem, ou incluíram a percepção da utilidade do aplicativo, o número de interações com o aplicativo e, mais importante, as taxas de cessação do tabagismo entre os usuários. A PI pode avaliar vários desfechos simultaneamente, e os resultados deveriam ser usados em processos de tomada de decisões.
REFERÊNCIAS 1. REMME JH, ADAM T, BECERRA-POSADA F, D’ARCANGUES C, DEVLIN M, GARDNER C, ET AL. DEFINING RESEARCH TO IMPROVE HEALTH SYSTEMS. PLOS MED. 2010;7(11):E1001000. HTTPS://DOI.ORG/10.1371/JOURNAL.PMED.1001000
2. Langlois EV, Mancuso A, Elias V, Reveiz L. Embedding implementation research to enhance health policy and systems: a multi-country analysis from ten settings in Latin America and the Caribbean. Health Res Policy Syst. 2019;17(1):85. https://doi.org/10.1186/s12961-019-0484-4