A asma é um problema de saúde global que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, representando uma carga significativa para indivíduos, famílias e comunidades. Essa condição respiratória crônica pode ter um impacto profundo na qualidade de vida e na produtividade dos pacientes. Compreender o impacto global da asma e reconhecer a importância dos cuidados da asma para todos é crucial para abordar esse problema generalizado em todo o mundo. Em primeiro lugar, é essencial reconhecer a dimensão do problema. Estima-se que a asma afete mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, e sua prevalência continua a aumentar de forma estável. Essa doença crônica não conhece fronteiras e afeta pessoas de todas as idades, raças e níveis socioeconômicos. Desde países de alta renda a low- and middle-income countries (LMIC, países de média e baixa renda), a asma é um desafio de saúde universal que exige atenção.(1) O impacto da asma vai além do sofrimento individual. Famílias com membros asmáticos muitas vezes enfrentam desafios emocionais, financeiros e práticos. Visitas frequentes a unidades de saúde, despesas médicas e a necessidade de tratamento contínuo podem sobrecarregar os orçamentos domésticos. Além disso, emergências e hospitalizações relacionadas à asma podem prejudicar as rotinas diárias, impactar a educação e o trabalho, e diminuir a qualidade de vida geral dos pacientes e de seus familiares.(1) Para o Dia Mundial da Asma de 2023 (2 de maio), a GINA escolheu o tema “Cuidados da Asma para Todos”, reconhecendo a importância de iniciativas para alcançar as melhores práticas de diagnóstico e tratamento para todos os pacientes com asma, independentemente do desenvolvimento econômico do país.(2) A maior parte do impacto da morbidade e mortalidade da asma ocorre em LMIC.(3) Alguns LMIC relatam taxas muito altas (de até 90%) de asma não controlada.(4,5) A GINA se esforça para reduzir essa carga incentivando os líderes de saúde a garantir a disponibilidade e o acesso a medicamentos eficazes e de qualidade garantida.(2)
O acesso inadequado aos cuidados da asma exacerba a carga vivenciada pelos indivíduos afetados. As disparidades nos recursos de saúde e a disponibilidade limitada de medicamentos acessíveis, principalmente nos LMIC, dificultam o manejo eficaz da doença. Essa falta de acesso pode levar à asma não controlada, bem como ao aumento de hospitalizações e mortes.(6) É crucial reconhecer que o tratamento adequado da asma, incluindo um diagnóstico preciso, medicação apropriada, monitoramento regular e educação do paciente, pode melhorar significativamente os resultados e reduzir o impacto da doença.(2) Lidar com o impacto da asma requer uma abordagem abrangente e colaborativa. Governos, sistemas de saúde, formuladores de políticas e comunidades devem priorizar a asma como uma preocupação de saúde pública, especialmente no que diz respeito à asma grave.(1,7) Maiores investimentos em pesquisa sobre a asma, melhor acesso a medicamentos com custos acessíveis, particularmente aqueles para asma grave, e maior infraestrutura de saúde são etapas necessárias para se alcançar o controle eficaz da asma em escala global.(6) A educação e a conscientização também desempenham um papel fundamental na redução do impacto da asma. A promoção da educação em asma entre profissionais de saúde, pacientes e suas famílias é vital para a detecção precoce da doença, o automanejo adequado e a prevenção de exacerbações. Ao capacitar globalmente os indivíduos com conhecimentos e habilidades, podemos promover uma abordagem proativa para o tratamento da asma que melhora os resultados de saúde e reduz a carga sobre indivíduos e sociedades.(1,2,6,7)
Nos LMIC, a falta de conscientização sobre a doença e de acesso ao tratamento adequado da asma representa um desafio significativo, exacerbando o impacto dessa condição respiratória crônica nessas populações. Vários fatores contribuem para as dificuldades enfrentadas pelos indivíduos em LMIC ao procurar cuidados da asma, como segue: 1) infraestrutura de saúde (infraestrutura de saúde limitada, incluindo escassez de instalações de saúde, profissionais médicos e suprimentos médicos essenciais); 2) acessibilidade (custo dos medicamentos para asma e recursos financeiros limitados); 3) disponibilidade limitada (disponibilidade inadequada de medicamentos para asma); 4) falta de conscientização e educação sobre a doença (por parte dos pacientes e profissionais de saúde); e 5) fatores culturais e sociais (crenças culturais e estigmas sociais em torno de doenças crônicas).(1,2,6,7) Enfrentar os desafios de acessar o melhor tratamento da asma em LMIC requer uma abordagem multifacetada. Os esforços devem se concentrar na melhoria da infraestrutura de saúde, incluindo a expansão do número de unidades de saúde, o treinamento de profissionais de saúde e a garantia da disponibilidade de medicamentos essenciais a preços acessíveis. Campanhas de saúde pública destinadas a aumentar a conscientização e a educação sobre a asma, seu manejo e a importância de procurar atendimento médico em tempo hábil também são cruciais. A colaboração entre governos, organizações de saúde, sociedades médicas e agências internacionais é essencial para mobilizar recursos e desenvolver estratégias sustentáveis para melhorar o acesso ao tratamento da asma em LMIC.(1,2,6) As dificuldades para se levantar recursos para estudos de intervenção abordando importantes questões não respondidas sobre asma com foco em populações de LMIC também são um desafio a ser superado.(1)
Em conclusão, o impacto da asma é um desafio global significativo que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos LMIC. Reconhecer a importância do “cuidado da asma para todos” é crucial para abordar esta questão. Apenas capacitando todas as partes interessadas (pacientes, organizações não governamentais de pacientes, organizações de saúde, governos, formuladores de políticas e sociedades médicas) para abordar todas as barreiras ao manejo da asma, aumentando o acesso a medicamentos acessíveis, educação e conscientização, bem como priorizando a asma como um problema de saúde pública, seremos capazes de aliviar o impacto sobre indivíduos, famílias e comunidades, melhorando a qualidade de vida daqueles que vivem com asma nessas populações.
REFERÊNCIAS
1. The Global Asthma Report 2022. Int J Tuberc Lung Dis. 2022;26(1):1-104. https://doi.org/10.5588/ijtld.22.1010
2. Global Initiative for Asthma [homepage on the internet]. Bethesda: Global Initiative for Asthma; c2023 [cited 2023 Jun 1]. Global Strategy for Asthma Management and Prevention (2023 update). Available from: http://www.ginasthma.org
3. Meghji J, Mortimer K, Agusti A, Allwood BW, Asher I, Bateman ED,et al. Improving lung health in low-income and middle-income countries: from challenges to solutions. Lancet. 2021;397(10277):928-940. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)00458-X
4. Gold LS, Montealegre F, Allen-Ramey FC, Jardim J, Smith N, Sansores R, et al. Level of asthma control and healthcare utilization in Latin America. Allergy. 2013;68(11):1463-1466. https://doi.org/10.1111/all.12237
5. Cançado JED, Penha M, Gupta S, Li VW, Julian GS, Moreira ES. Respira project: Humanistic and economic burden of asthma in Brazil. J Asthma. 2019;56(3):244-251. https://doi.org/10.1080/02770903.2018.1445267
6. Mortimer K, Reddel HK, Pitrez PM, Bateman ED. Asthma management in low and middle income countries: case for change. Eur Respir J. 2022;60(3):2103179. https://doi.org/10.1183/13993003.03179-2021
7. Pitrez PM, Giavina-Bianchi P, Rizzo JÂ, Souza-Machado A, Garcia GF, Pizzichini MMM. An expert review on breaking barriers in severe asthma in Brazil: Time to act. Chron Respir Dis. 2021;18:14799731211028259. https://doi.org/10.1177/14799731211028259